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Esses vossos olhos misericordiosos - Só uma rapidinha
eu abriria esse e-mail se fosse você, amante da madre e da freira
Boa noite safadinhes, como estamos?
Estou passando boa parte desse mês em um chá de cadeira porque fiz uma cirurgia no meu pé para corrigir um probleminha, o que me deu muito tempo para pensar no que trazer pra vocês e em como quero levar os próximos meses da newsletter e do catarse.
Como eu adoro caçar coisas pra fazer (e fazer coisas que eu amo me diverte na mesma medida que me enlouquece), fui olhar para o que vocês mais queriam e ainda não estava entregue, e foi fácil encontrar a resposta: a história da madre e da freira! Começou como um texto despretensioso (como tudo nessa newsletter) que comecei aqui (leia a parte 1), e a ideia era ter apenas uma parte 2, mais nada. Mas obviamente transformei a parte dois em uma novena, com o objetivo de escrever um texto para cada dia da novena, com um texto explicando as recompensas da freira no final. Claro.
Até então, já postei o dia 1 e o dia 2 da novena. Quem é apoiador do catarse já leu o texto de hoje (o dia 3 da novena!) ano passado, em novembro. Agora ele está aqui na newsletter junto de uma novidade: as freiras viraram uma meta de apoios do catarse!

É isso mesmo que você leu! Pra continuação acontecer rapidinho, coloquei as metas no catarse. Assim, você me ajuda a continuar contando essa história, e ainda lê ela em primeira mão 😉
Ah, Koda, se a meta não bater a gente nunca vai ler o final dessa história?
Vão sim! Eu só não vou prometer quando, porque como disse, estou operado, volto pro trabalho no começo do próximo mês e quero retomar o meu romance aos pouquinhos. Pra incluir essa prioridade, surgiu a meta.
Como disse, a ideia é que os textos sejam exclusivos do catarse por alguns meses, no mínimo, então além de apoiar a meta, você garante que vai ler essa história antes de todo mundo. Dito tudo isso:
Se quiser contribuir com a meta da freira e da madre, receber as rapidinhas antes de todo mundo, newsletter de fofocas mensal e textos e trechos exclusivos, considere apoiar o meu catarse. Além das recompensas, você me ajuda a continuar contando histórias!
Esses vossos olhos misericordiosos
Irmã Raquel tinha certeza absoluta de que qualquer coisa poderia acontecer dali para frente. Literalmente qualquer coisa. Embora seus desejos fossem muitos, sua imaginação era pouca. Queria, mas mal sabia o que queria. Precisava, mas não tinha ideia do que é que precisava. Só sabia que seu interior ardia de vontade, de urgência, da falta.
Talvez por isso, talvez por não estar de fato dormindo, tendo apenas sonhos inquietos, Irmã Raquel já acordou com um leve embrulho de expectativa no estômago. Curiosa, abriu os olhos devagar, mas mais uma vez a Madre não estava ao seu lado. Sentou na cama, tentando olhar ao redor, buscando um bilhete, um aviso, prestando atenção para algum som que pudesse vir do banheiro, mas nada.
Mordeu os lábios, repetindo em silêncio para si mesma que estava tudo bem. Ela não tinha sido abandonada, a Madre só tinha afazeres. Ainda assim, o sentimento estava ali. Engoliu ele inteiro com um copo de água da jarra que estava sobre a mesa e já não pensava mais nisso quando entrou para tomar um banho. Não queria e não iria, simples assim.
Tomou seu banho como de costume. Era estranho como nada tinha mudado em seu corpo, nada tinha sido feito com a Irmã, mas cada vez que se tocava, cada vez que deixava a água cair sobre o corpo e se lavava, se sentia diferente. Encostar em si mesma tinha outro significado agora, sua percepção das sensações era outra, os arrepios em seu corpo eram diferentes. Descobria a cada dia um novo lugar sensível em seu corpo — pescoço, atrás das orelhas, a parte interna das coxas, seus pés —, cada pedaço acompanhado de um desejo de que a Madre lhe mostrasse tudo que seria possível.
Madre Madalena estava mudando tudo em sua vida. Seus horários, seu caminho, como se tocava, como se banhava, o que despertava sua ansiedade e o que a deixava acordada de noite, o que esperava dos seus dias e o que fazia despertar a sua fome. Fome. Irmã Raquel agora tinha fome. Sua vida nunca fora ruim, mas agora era melhor, ela tinha certeza. Agora ela tinha mais do que um propósito, tinha uma mentora. Era uma protegida. Servia à Deus em toda sua grandiosidade, e a Madre, em toda sua bondade em ensiná-la e moldá-la.
Estava feliz, do fundo do seu coração. Verdadeiramente feliz.
E feliz saiu do banheiro, vestiu seu hábito, ajeitou seu véu. Feliz foi tomar café, e esperava encontrar a Madre na cozinha, mas ela também não estava ali. Cumprimentou outras freiras, comeu sua comida, lavou os seus pratos. A felicidade lentamente se esvaiu, escorrendo junto da passagem lenta do tempo.
No dia anterior, tudo pareceu acontecer rápido demais. Não sentiu o tempo das orações da manhã, perdeu a noção do tempo durante à tarde, muito preocupada em obedecer a Madre e não se render aos desejos quando estava de joelhos na sala dela, e foi vencida pelo cansaço à noite, ainda que o sono não quisesse vir de bom grado.
Infelizmente não estava tendo a mesma sorte de novo. Viu os minutos se arrastarem lentamente quando ela se arrastou pelos corredores, buscando encontrar o olhar da Madre, buscando vê-la nem que fosse de costas, nem que fosse de longe. Ela não estava em lugar nenhum. Passou por algumas salas fechadas, mas não bateu à porta. Sabia que algumas das Irmãs tinham compromissos fora do convento, mas não sabia de nenhum que envolvia a Madre. Por último, passou em frente a sala dela, mas ela estava aberta e vazia.
Parou por um segundo na porta, observando os móveis, deixando as memórias do dia anterior tomarem conta de seus pensamentos por um segundo. Não é que elas tivessem ido embora em algum momento, mas Irmã Raquel estava mesmo tentando se comportar e, para isso, precisava de alguma paz dentro de sua mente.
Ali, entretanto, deixou as imagens da Madre de joelhos inundarem seus pensamentos. O cuidado com que tocou em sua pele, o fascínio com que lambeu a calcinha, tão entregue, tão cheia de desejo. Irmã Raquel só sabia reconhecer esse desespero porque sentia um igual, corroendo sua calma e sua concentração. Porque toda vez que fechava os olhos algum detalhe da Madre lhe saltava, porque não conseguia apagar o gosto, o cheiro, a textura da pele dela de suas memórias. Conseguia até sentir um toque fantasma nos dedos, a saudade de algo que só teria de novo depois de muitos dias.
Teve que virar as costas para não entrar na sala e se trancar lá dentro. Teve que se esforçar para movimentar seus pés para longe, para outro lugar, para qualquer lugar, porque do contrário se prostraria no mesmo lugar de ontem, com a mesma fé de ontem, aguardando uma ordem que não veio, pronta pra obedecer a Madre mesmo que ela não estivesse ali.
Irmã Raquel queria tantas coisas.
Atormentada, decidiu que precisava de algo para passar o tempo. Alguma coisa que não ferisse as regras da Madre, algo que não envolvesse abdicar de seus pensamentos porque estava servindo outras pessoas, servindo ao mundo.
Foi até a capela aberta, que ficava na entrada do convento, para acompanhar a missa pública da manhã. Infelizmente — ou talvez felizmente —, suas provações a acompanharam. Se sentou logo antes do ato penitencial, um dos bancos laterais da pequena capela, em uma área que ficava comumente separada para as freiras.
Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
Amém.
Conhecia todos os hinos, todos os ritos, cada fala de uma missa como a palma de suas mãos. Estar ali parecia perfeitamente dentro das regras, e nada nas regras a impedia de pensar. Sua boca entoava o Glória e sua mente navegava pelo oceano que tinha se tornado o seu espírito.
Glória
O que mais era possível que a Madre fizesse dela?
Glória
O que mais a Madre poderia ensiná-la?
Ao Pai criador
Queria tudo. Aprender tudo. Obedecer à tudo.
Ao filho Redentor
Queria entender o tamanho de sua pequenez perto da Madre, sua Senhora
E ao espírito, Glória…
Queria ser trancada em um quarto e só sair dali inteiramente renovada, depois que a Madre a usasse de todas as formas possíveis, que a ensinasse tudo que existe, que transformasse seu corpo e mente por completo, até não restar nada.
Até o desejo ser reduzido a nada e, ao mesmo tempo, até que o desejo fosse tudo.
Irmã Raquel ouviu as palavras do padre, acompanhou as rezas, as leituras, a homilia, professou a sua fé, ficou de pé quando devia ficar de pé, se sentou quando devia se sentar. Estava ali em corpo, mas sua mente era uma confusão de ânsia.
E era essa ânsia, essa sensação de que precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa que fosse, que a mantinha exatamente no lugar, comportada, em silêncio, aguardando.
Sabia que essa ânsia era jovial demais, que era fruto de sua inexperiência. Sabia que a espera, que a negação, que a privação, também ensinavam algo. Saber disso e aceitar isso, eram, entretanto, coisas diferentes.
Observou as Irmãs que se levantaram durante o ofertório, as cestinhas em mãos para recolher as doações dos fiéis. Como instruído pela Madre, não se moveu, não ajudou. Queria. Queria muito. Sentia os dedos coçando, balançava as pernas inquietas de ansiedade.
Não foi.
Há muito tempo sabia que nem tudo que fazia dentro do convento era para servir a Deus. Claro, gostava da servidão e de adorar ao Senhor, mas também pegava muitas tarefas porque alegrava o próprio coração, se sentia útil, importante, melhor.
Buscando servir a Deus acima de tudo e agradar a Madre mais do que se agradar, abdicou mesmo de tudo isso durante a novena. Não importava se ninguém iria descobrir, ela seguiria.
Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e Todo-Poderoso, por Cristo, Senhor nosso.
Irmã Raquel se esforçou para estar presente naquele momento. Ao menos para a consagração. Ao menos para ver a transmutação do corpo de Cristo. Olhou com a devoção sempre renovada para o pão que logo se tornaria hóstia santa, se ajoelhou ao tocar do sino, respondeu na hora certa e junto de todos à Oração Eucarística.
Tomou a fila para comungar.
E sentiu mesmo que tinha ganhado alguma sabedoria até se ajoelhar para tomar a hóstia, como costumava fazer desde jovem, e receber o corpo e o sangue de Cristo na língua.
Não esperava que tomar a comunhão pudesse se transformar em algo que faria de forma erótica. Não previu que se ajoelhar e receber pão e vinho na boca a fariam pensar em outras coisas santas que tocou com a sua língua, não se preparou para a fraqueza que tomaria conta de seus joelhos.
Voltou para o seu lugar e se prostrou em oração mais uma vez.
Fez sua prece em silêncio. Pediu por paciência, discernimento, foco. Pediu por determinação, por obediência, rezou pela sua fé e pela pessoa que cuidava de sua fé. Rezou pela Madre, a liderança de seu rebanho, sua liderança pessoal. Deixou, ao menos por esse momento, a fé a inundar.
A missa acabou rápido depois disso.
Já que a Madre não havia lhe passado nenhuma tarefa específica, acabou almoçando e indo passar um tempo da tarde sentada nos bancos do jardim, contemplando as transformações dos últimos meses. Elas eram internas, de como enxergava a vida e a servidão, mas também externas. O convento estava mais quente, mais florido, as árvores bem verdes. O verão tomava conta de tudo, dos espaços, de sua pele, de sua mente. Como a estação, também fervilhava sua fé: em Deus, na Madre, no serviço.
Era delicioso notar o quanto estar diretamente envolvida com a Madre havia transformado seus dias. Não gostava de lembrar de como era sua vida antes, nem de imaginar como seria se tudo mudasse. Gostava do agora como era, e só isso.
Por baixo do hábito, o vento passeava pelo seu corpo, mantendo-o alerta, mantendo suas lembranças vivas. Ao mesmo tempo, sentia sinais de cansaço nas juntas, nos joelhos roxos das horas ajoelhadas, uma leve rigidez nas mãos depois de tanto tempo segurando o terço. Ainda assim, queria mais.
Sem pensar muito, se levantou e começou a caminhar na direção do quarto. Seguiu pelos corredores por alguns minutos e só reparou que estava no lugar errado quando abriu a porta do próprio quarto, observando-o perfeitamente imaculado.
Como se abdicasse de um passo seu que não queria mais, fechou a porta e foi para o quarto da Madre. Iria se banhar e aguardar o retorno da Madre, não importando quanto tempo ela demorasse. Aguardaria com paciência, aguardaria porque precisava disso. Precisava ser educada, ensinada, melhorada.
Quando abriu a porta, entretanto, Madre Madalena já estava ali. O fim de tarde começava a dar sinais, o sol indo se esconder atrás das montanhas, e a luz do quarto estava acesa. A Madre estava em sua poltrona, perto da mesa, lendo com a bíblia apoiada em seu colo.
— Madre — Irmã Raquel diz, incapaz de escolher as próximas palavras.
Queria saber onde ela estava, mas não queria ser impaciente e ciumenta.
— Irmã Raquel! Estava te aguardando. Passou bem o dia? — A Madre fechou a bíblia e a colocou sobre a mesa. Tinha um sorriso pequeno no rosto e convidou a freira para perto com a mão.
— Sim, Madre. Fui à missa no fim da manhã e passei a tarde no jardim. — Segurou o que queria dizer em seguida, mas pensou mesmo assim: senti sua falta.
— Aproxime-se mais. — Madre segurou a Irmã pelo pulso e puxou-a para se sentar no seu colo. A freira deixou-se derreter com aquele contato, apoiando o corpo contra o da Madre. — Foi assistir a missa do Padre Matheus? — Ela acenou, concordando. — Você me obedeceu, Irmã Raquel?
— Sim, Madre. — A voz da freira saiu falha e fraca. O calor do corpo da Madre era intenso, contagiando.
— Não te ouvi, querida — a Madre murmurou no ouvido dela.
Irmã Raquel apertou o braço da poltrona com as unhas.
— Sim, Madre — repetiu com mais força.
— Bom.
Madre Madalena soprou ar quente na nuca de Irmã Raquel, devagar, suspirando e ronronando, as mãos firmes na cintura da freira.
— Eu… Eu preciso tomar banho, Madre. Para as nossas orações.
As mãos da Madre desceu até o quadril da freira, depois por cima de suas coxas.
— Tenho outros propósitos para você hoje. — A voz da Madre era arrastada, lenta, carregada de algo que a freira não sabia identificar.
— Tem?
Irmã Raquel suspirou quando a Madre abriu suas pernas, as mãos a guiando pro cima do hábito. Foi ajeitada por cima da coxa da Madre e conseguia sentir a pele dela encostando entre as suas pernas. Poderia se esfregar ali se quisesse.
Queria muito descobrir o que aconteceria se esfregasse o quadril contra a coxa da Madre.
Chegou a ensaiar o movimento, mas foi segurada no lugar.
— Vamos para o banheiro, Irmã.
Vamos? Juntas? Irmã Raquel pensou, mas não conseguiu verbalizar. Se levantou conforme as indicações da Madre e se deixou ser guiada por ela. Entraram juntas no banheiro.
Madre Madalena sentou na cadeira que mantinha ali dentro, perto da porta do box, e puxou Irmã Raquel pelas mãos mais uma vez. Olhava de baixo para a Madre, a expressão indecifrável, analisando-a, buscando alguma coisa.
— Tire a roupa, Irmã Raquel.
A freira tinha certeza de ter ouvido a voz da Madre tremer com o comando, o mesmo tremor que ecoou dentro dela e enfraqueceu suas pernas.
— Agora?
— Agora.
Irmã Raquel hesitou, os punhos fechados ao lado do corpo, mordendo os lábios porque não sabia o que mais fazer. Nunca havia se despido perto da Madre. Nunca havia se despido perto de outras pessoas além de suas irmãs, na verdade. Tinha um pouco de medo do que a Madre poderia pensar. Se gostaria do que veria, se não acharia nada estranho que a Irmã nunca soube que era estranho, se não a acharia… indigna.
Esse era outro sentimento estrangeiro que não sabia reconhecer e, por isso, não sabia como lidar. Vergonha. Vergonha do próprio corpo. Medo de não ser suficiente.
— Irmã — a Madre falou, firme, trazendo-a de volta para a realidade, para o momento. — Olhe para mim.
Irmã Raquel tentou, mas não conseguia. Desceu o olhar, mas o breve segundo que cruzou com os olhos da Madre foi suficiente para embrulhar seu estômago de uma vez. Virou o rosto, fitando o box, tentando encontrar uma forma de fazer isso.
Se assustou quando a Madre segurou seu queixo, virando seu rosto para frente, fixando seu olhar no dela.
— Eu disse para olhar para mim, Irmã Raquel.
A freira nunca entenderia como um simples segurar na sua pele poderia ser tão intenso. Como apenas o toque de seus dedos em um pedaço do seu rosto, uma parte tão normal e mundana quanto o seu queixo, poderia incendiar seu peito, esquentar suas pernas, molhar o seu interior. Não podia fugir do olhar assim, não podia ignorar nada do que sentia agora.
— Eu sei que você tem medo. — A Madre começou a falar devagar. Irmã Raquel mais uma vez se sentiu exposta. Como sabia? — Eu sei que está com vergonha. Sei que teme não me agradar.
Irmã Raquel fechou os olhos porque era demais. Sentir essas inseguranças já era terrível, mas ouvi-las da boca da Madre era assustador. Sim, tinha medo. Sim, queria ser perfeita. Sim, era agonizante.
— Olhe para mim. — Repetiu, firmando um pouco mais os dedos no rosto dela. — Abra os olhos.
Ela abriu.
Madre Madalena não tirava os olhos dela, estava com os lábios molhados e entreabertos e soltava uma respiração quente e úmida diretamente no rosto da Irmã.
— Não existe a possibilidade de eu não gostar do que vou ver, Irmã.
— Mas…
— Sem mas. — Sacudiu o rosto da freira. — Você pretende me desobedecer, Irmã? — Madre Madalena falou como se fosse um desafio. Pareceu, por um segundo, que queria ser desobedecida. Que queria ver Irmã Raquel se rebelar. — Vou ter que tirar a sua roupa eu mesma?
Irmã Raquel se permitiu pensar por um segundo em como seria. Como seria só parar ali e deixar a Madre a despir, peça a peça. Tocar seu corpo, clamar o que quisesse como seu. Só seu. Seria tão deliciosamente bom que chegava a ser errado. O único detalhe é que envolveria, antes, desobediência. Irmã Raquel não conseguiria tal feito nem se quisesse, e não queria. Não queria de forma alguma.
— Eu… Posso… Fazer… — Falou, as palavras saindo muito pausadas. Poderia fazer. Poderia fazer?
Madre Madalena soltou o queixo dela e beijou o lugar onde estavam seus dedos. Irmã Raquel prendeu a respiração com a proximidade das duas, com o quão próximo seus lábios ficaram, com o quão perto esteve de beijá-la. A Madre afundou o nariz em sua pele e subiu pelo seu pescoço, expirando quente, inspirando forte. Irmã Raquel tentou se manter imóvel, a respiração curta e acelerada, e precisou morder os lábios com força quando a Madre passou a língua em seu pescoço, soltando um gemido abafado.
— Estou suada, Madre.
— Eu sei. — A Madre suspirou, ainda respirando contra a pele dela, seus dedos tremendo sobre o ombro esquerdo da freira. — Eu sei.
Irmã Raquel continuava paralisada. Observava cada mini movimento da Madre desejando ser capaz de decorá-los inteiros, de escrevê-los dentro de sua mente como as páginas de uma Bíblia. A respiração incerta dela, seu peito se apertando contra o da freira, seus dedos trêmulos, a pele de seu nariz, a textura de sua língua, o rastro molhado que deixou no seu pescoço. Sabia que estava molhada. Quando entrasse para tomar banho, sabia o que encontraria no meio das pernas. Sabia como estaria sensível.
— Tire a roupa pra mim, Irmã Raquel. — A Madre voltou a falar, agora com a voz macia e suave, sussurrando bem perto do ouvido da Irmã. — Por favor. Por favor.
A Madre estava… pedindo? Não, a Madre parecia implorar. Sua voz era chorosa, sua expressão a de quem implorava por piedade.
A Madre. Implorando por piedade.
Irmã Raquel não poderia dizer não depois disso. Não seria capaz de negar nada que a Madre pedisse nesse tom de voz, desse jeito, se esfregando assim.
Deu um passo para trás, se afastando da Madre. Esperou um segundo para ela se recuperar, para ela entender, para que ela pudesse de fato apreciar o que faria, e então levou as mãos até a corda que amarrava o hábito em sua cintura. Desfez os nós e puxou a corda com cuidado. Estava pronta para soltá-la, mas a Madre estendeu a mão, pedindo.
Entregou, esfregando os dedos contra os dedos dela, deixando a estática entre as duas queimar, arder dentro de si. A Madre levou a corda até o rosto e esfregou ali, sentindo a textura, os olhos fechados.
— Vou ficar com isso pra mim.
— Eu preciso.
— Te darei um dos meus.
Irmã Raquel não discutiu. Ao invés disso, tirou seu véu. Soltou os clipes e o nó em sua nuca e deslizou a peça para trás, liberando seus cabelos. Deixou o véu cair atrás de si, no chão, porque não queria se mover. Não queria desviar do olhar da Madre, não queria quebrar essa conexão que parecia ter surgido entre as duas.
Segurou a saia do hábito dos dois lados com as mãos e a subiu devagar, puxando o tecido com os dedos, segurando tudo na altura do quadril. Não era nenhum jogo, era como costumava se despir, mas reparou que a Madre estava imóvel, parecia em transe. As mãos que antes seguravam com força a corda da freira agora estavam firmes no seu próprio hábito, agarrando o tecido com urgência.
Irmã Raquel terminou de subir a saia e puxou o hábito sobre a cabeça, tirando-o de uma vez, e deixou também cair ao seu lado, direto no chão.
Estava feito.
Não pode deixar de se comparar com a Madre nesse momento, ou ao menos com a memória dela. A Madre tinha seios fartos e volumosos e os das freira eram pequenos, mal enchiam a palma de sua mão; os quadris da Madre eram cheios, ela tinha uma barriguinha que Irmã Raquel gostava de se imaginar lambendo, e a freira era um pouco reta, sem tantas curvas; a Madre tinha uma bunda deliciosa, que tão poucas vezes a Irmã pode ver, e a dela era menor, menos chamativa.
Nunca se sentiu particularmente atraente até aquele momento.
Não até ver os olhos vidrados da Madre, seus lábios trêmulos presos em uma mordida forte, suas mãos se esfregando na lateral do corpo, inquietas.
Nunca se sentiu atraente até ver a Madre a encarando com fúria, como se precisasse de todas as suas forças para se manter imóvel, como se um leve soprar de vento fosse suficiente para fazê-la atacar.
Nunca se sentiu atraente até ver como a Madre parecia domar um animal raivoso dentro de si. Até ouvir as palavras saírem da boca dela como um rosnado de um cão selvagem:
— Banho. Agora.
Irmã Raquel nem hesitou. Entrou para dentro do box, desviando da Madre, e ligou a água. Esperou de costas para a Madre até que estivesse quente como gostava antes de entrar. Mediu a temperatura com a mão e, depois de alguns segundos, entrou embaixo da água, desviando para não molhar os cabelos.
— Preciso que lave seus cabelos também — a Madre ordenou.
Mais uma vez, Irmã Raquel não discutiu. Parou de pé embaixo da água, deixando ela molhar seu corpo inteiro, dos cabelos aos pés. Era quente e gostoso. Reconfortante. Um alívio.
— Vire-se para mim e lave seu cabelo.
A freira se virou. A Madre agora estava sentada na beirada da cadeira, as pernas levemente abertas, e a observava sem desviar o olhar. Ansiosa em obedecer, Irmã Raquel pegou o shampoo e colocou um pouco nas mãos. Esfregou a raiz rapidamente, massageando com os dedos, e enxaguou de olhos fechados. Repetiu o mesmo com o condicionador, cuidando agora das pontas, e de novo lavou tudo na água quente. Era um processo rápido, porque seu cabelo era curto e bem liso. Estava acostumada.
— Ótimo. Agora molhe o sabão e lave seus braços, pescoço, atrás das orelhas, seus seios — a Madre tremeu ao falar. — Com atenção nos detalhes. Não me faça ter que conferir tudo.
De novo, Irmã Raquel sentiu algo na voz da Madre que pedia para ser desafiado. Uma sombra de algo tentador, algo que só precisava ser puxado e seguido. Não seria essa pessoa. Não poderia ser.
Molhou o sabonete e esfregou nos braços, o esquerdo, depois o direito. Passou os dedos com espuma atrás das orelhas, esfregou o pescoço com a palma das duas mãos e teve quase certeza de que ouviu um gemido. Distante, baixinho, mas ouviu. Desceu as mãos até os seios e esfregou os dois, massageando com calma, e esfregou também a barriga e as costas.
— As pernas também. Mas não…
A Madre não terminou, mas não precisava. Ela entendeu.
Esfregou a perna esquerda primeiro, usando um apoio fixado na parede com uma ventosa. Se abaixou e esfregou até o calcanhar, depois o pé. Fez o mesmo com a outra perna e não deixou de reparar na Madre pelo canto do olho, como ela parecia inclinada para frente na beirada da cadeira, se aproximando devagar.
— Agora se lave. Devagar, com a ponta dos dedos, inteira.
Irmã Raquel começou a se virar de costas, mais por costume do que por outros motivos.
— Eu quero ver, Irmã. Por favor.
Por favor.
Jamais imaginou que duas palavras que sempre foram sinônimo de educação poderiam se tornar uma súplica tão sensível e perturbada. Tão intensa.
Molhou os dedos na água quente mais uma vez, esperando um segundo. Sabia que seria um problema. Fazer isso sozinha já era difícil, mas fazer sob o olhar tentador e vigilante da Madre era tortura. Ainda assim, fez.
Colocou de novo a perna esquerda no apoio, se abrindo embaixo da água, e levou o dedo até o meio de suas pernas. Estava tão, tão molhada. Nunca antes dessa forma, nesse nível, nessa quantidade. O líquido viscoso fazia seus dedos escorregarem muito fácil do seu clitóris até a sua entrada, e um leve descuido seria suficiente para enfiar a ponta dos dedos dentro de si.
Tão difícil. Tão impossível de resistir.
Desceu e subiu os dedos várias vezes.
De novo.
De novo.
Se abriu com uma mão e com a outra esfregou seu clitóris devagar, chegando a prender a respiração, com muito medo de perder o controle, com muito medo de quebrar seu acordo com a Madre.
Soltou um suspiro lento quando acabou, se sentindo levemente vitoriosa e orgulhosa. Tinha conseguido. Conseguiu mesmo.
— De novo — a Madre ordenou.
Irmã Raquel levantou o olhar, incrédula.
— De novo? — murmurou.
Não sabia se aguentaria de novo. Não sabia se resistiria a mais uma vez.
— De novo.
Lavou o rosto, esfregando as mãos contra a pele, sentindo que suava, mesmo embaixo da água. Subiu a perna de novo no apoio, uma leve dor incomodando, a outra perna já um pouco fraca.
Dessa vez, fechou os olhos. Escorregou os dedos e se irritou porque já estava molhada de novo. Seu clitóris estava inchado e sensível, não como o da Madre, mas ainda tão gostoso. Era errado. Ela não devia sentir tanto prazer assim, não antes do fim da novena, não enquanto não podia gozar.
Abriu os olhos assustada quando sentiu calafrios percorrerem o corpo, o prazer se espalhando do ventre e subindo pelos braços, descendo pelas pernas, fazendo formigar a ponta de seus dedos.
Não ajudou que encontrou a Madre se esfregando contra a quina da cadeira, parecendo não se aguentar com a visão da freira assim, aberta, se limpando e tentando não gozar. Se segurando para não gozar.
Sem saber o que era considerado suficiente, abaixou a perna de uma vez, querendo evitar que a Madre percebesse o quanto estava gostando daquilo.
— De novo, Irmã.
— Madre… — Irmã Raquel falava com sussurros, choramingando, tremendo inteira.
— De novo.
Irmã Raquel tombou o corpo para trás, apoiando na parede, temendo não ter forças para terminar esse pedido. Desceu os dedos de novo e fez uma pinça ao redor do seu clitóris, como fazia com o da Madre, desviando completamente do que foi pedido. Bom, não totalmente. Também se limpava assim. Também era gostoso se limpar assim. Moveu os dedos para cima e para baixo, devagarzinho, se arrepiando a cada vai e vem.
Gemendo a cada vai e vem.
Não saberia dizer quando foi que começou a gemer, só reparou que gemia, suspiros, a voz baixinha e aguda, arfando enquanto o peito subia e descia.
Tão perto. Só mais um pouco. Talvez a Madre não percebesse se ela só…
— Pare.
Não entendeu.
— Irmã, pare. Está bom, pode sair.
Claro. Claro que a Madre perceberia. Claro.
Irmã Raquel deixou a mão tombar ao lado do corpo, respirando fundo, deixando a água acalmar seu corpo, acalmar sua quase transgressão, lavar sua agonia.
— Venha, vou te secar.
Desligou a água, as mãos trêmulas, e cambaleou de volta para fora do box, parando sobre o tapete. Água pingava de seu corpo e de seus cabelos, que nem lembrou de torcer um pouco antes de sair. Estava desmontada. Perdida. Carente.
— Vire-se, por favor. — A Madre se aproximou com uma toalha nas mãos. — Tudo bem, Irmã? — murmurou no ouvido dela, quase colando os corpos das duas.
Irmã Raquel apenas acenou que sim.
Não queria falar, tinha medo do som da própria voz quebrar algo nesse momento.
Madre Madalena passou a toalha nos seus cabelos, secando a nariz, espalhando as pontas no tecido, massageando com carinho. Não demorou muito e deixou essa toalha de lado antes de continuar, pegando outra.
Passou essa nas costas da Irmã, arrepiando-a com cada contato. Subiu de volta, descendo agora pelos ombros, um braço primeiro, depois o outro. Cada pedaço tocado pela toalha era em seguida beijado devagar, os lábios macios da Madre criando o cenário perfeito para um desastre.
A Irmã Raquel era esse desastre.
Virou de volta quando foi ordenado, agora de frente para a Madre. Se já se encolhia sob o olhar dela de longe, de fora do box, vê-lo agora tão de perto despertava em Irmã Raquel a urgência de se ajoelhar. Queria beijar os pés da Madre, perguntar o que poderia fazer por ela, como poderia servi-la, de quais outras formas poderia ser torturada para o prazer da Madre, unicamente pelo prazer da Madre.
Indiferente aos seus pensamentos, Madre Madalena passou a toalha no pescoço da Irmã, depositando o beijo em seguida, e mais uma lambida, exatamente onde lambera mais cedo. A pele de Irmã Raquel era fogo santo em toda sua extensão. Estava de novo sendo empurrada para um abismo, para a desobediência.
Quando chegou ao seus seios, Madre Madalena se demorou. Secou um, devagar, com a mão apertando sobre a toalha, depois o outro, sentindo seu formato e volume, como se testasse alguma coisa, como se buscasse alguma resposta. Ao invés de beijá-los, soprou hálito quente em seus mamilos, observando com fascínio como estavam rijos e pontudos.
Irmã Raquel nunca imaginou que pudesse ser alvo de desejo até se ver inteira feita de desejo. Não imaginou que fosse capaz de enlouquecer outra pessoa até testemunhar ali, de perto, como a Madre parecia… descontrolada. Uma versão diferente dela, uma versão bestial.
A Madre secou sua barriga, se ajoelhou e secou uma perna, depois a outra. Desviou elegantemente do que Irmã Raquel mais queria, da sua ânsia, do seu inferno. Beijou suas coxas, apertou com a ponta dos dedos, apertou sua bunda.
Mediu cada pedaço da freira com as mãos, depois com os lábios, até que estava satisfeita. Até estar sorrindo como se estivesse possuída.
— Perfeita. Você é perfeita, Irmã. Perfeita. — Esfregou a ponta do nariz na lateral da coxa direita da freira, apoiando o rosto em sua pele. — Perfeita.
Madre Madalena se levantou depois de vários segundos, ainda sorrindo muito, ainda com um brilho diferente no olhar, ainda transparecendo algo que não poderia ser descrito com outra palavra além de fome. Desespero.
Como um animal diante de sua caça.
— Você pode se deitar agora, Irmã.
Poderia. Talvez. Só quando tentou se mover foi que sentiu as coxas úmidas, escorregando uma contra a outra, e fechou rápido as pernas. Molhada. Estava tão molhada que se sentia escorrendo.
— Madre, eu…
A Madre só a observou, esperando.
— Talvez eu deva me lavar de novo. Sinto que não fiz como você mandou.
Irmã Raquel imediatamente se arrependeu de ter falado, porque arrancou uma risada muito alta da Madre. Do tipo irônico, do tipo ruim. Ao menos era o que parecia.
— Minha querida… Minha doce e querida Irmã Raquel…
Madre Madalena se aproximou até que a Irmã sentisse os corpos da duas colados, o tecido do hábito da Madre se esfregando contra a sua pele. A Madre apoiou o rosto no ombro direito da Irmã, respirando fundo e devagar, e desceu a mão pelo outro lado. Passou pelo pescoço, pelos seios, sentiu sua cintura, desceu pelo quadril e levou os dedos até o clitóris da Irmã, esfregando, molhando, sentindo sua entrada. Enfiou a ponta dos dedos, e só isso, e Irmã Raquel gemeu Madre… tão baixo, de forma tão sincera e desesperada que quase perdeu o equilíbrio.
Irmã Raquel estava sendo tocada. Estava sendo tocada pela Madre, tocada de verdade, e estava molhada, muito molhada e sensível, e era tão desesperador e gostoso e intenso e parecia mentira, só podia ser mentira, mas não era.
Irmã Raquel estava mesmo sendo tocada.
Madre…
Madre Madalena afastou os dedos, deixando um vazio para trás, uma ânsia insaciável, uma ovelha perdida de seu rebanho.
Irmã Raquel abriu os olhos, desesperada, pronta para implorar por mais, quando viu a Madre levando os dedos até a boca. Ela passou com a ponta pelos lábios, molhando-os, e depois chupou inteiros, sugando com vontade, provando do gosto da Irmã.
Provando do gosto da Irmã em sua língua.
— Nada de banho, minha querida. Você vai dormir assim mesmo. — Madre Madalena tirou os dedos da boca para falar, mas voltou a chupar no segundo seguinte. Parecia gostar muito. Muito mais do que Irmã Raquel considerava ser possível. — Era assim mesmo que eu gostaria que você estivesse. O tempo todo se possível.
É isso! Um xêro e um queijo,
Kodinha
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