#37 - Consagro-vos a minha língua - Só uma rapidinha

ajoelhou tem que ̶c̶h̶u̶p̶a̶r̶ rezar

E ai rapidinher, tudo em cima?

Eu sei, eu sei, já faz mais de um mês sem rapidinha, uma abstinência não prevista e, definitivamente, mal calculada.

Aconteceram algumas coisas na minha vida pessoal no último mês e eu basicamente parei tudo para dar atenção a essas coisas. Só na última semana consegui retomar a escrita e finalizar esse texto, e agora ele está aqui para você: quente, herege, pornô.

Quis explorar um lado diferente. Meu objetivo com o padre-verso é que a cada texto a gente puxe e estique um pouco mais o nosso tobogã pro inferno, que a cada história a gente reserve mais o nosso lugar no colo do capeta.

No final essa história ficou com mais de oito mil palavras e é só a parte 1! Sim, esse texto também terá parte 2. A era das rapidinhas rapidinhas está chegando ao fim! Estou me esforçando muito pra servir sempre do melhor para você 😉 

Consagro-vos a minha língua

Raquel havia se tornado oficialmente Irmã Raquel há seis meses e essa foi a melhor decisão que ela tomou em toda sua vida. Não só porque rezar acalmava o seu coração de muitas formas, mas também porque as freiras mais velhas perceberam muito rápido o que ela mais gostava de fazer: servir. Todas elas faziam trabalhos voluntários, seja no convento, na escola católica coordenada pelo convento ou em instituições pela cidade, mas a maioria dessas tarefas não eram fixas. Havia um único lugar com muitas tarefas fixas para serem feitas e era o próprio convento. Dessa forma, assim que notaram a ânsia por fazer mais e mais que Irmã Raquel carregava, as irmãs mais velhas trataram de abrir espaço para que ela fizesse mais coisas.

Foi fazendo de tudo um pouco ali dentro que Irmã Raquel começou a se sentir verdadeiramente feliz e completa. Sim, amava a Deus acima de todas as coisas, mas, para ela, Deus não era somente um fim, mas também o meio. Era através dEle que ela encontrara seu lugar no mundo, onde poderia ter significado e cumprir seu papel. Ela cuidava da cozinha, ajudava na lavanderia, se esforçava para incluir muitos turnos de limpeza no seu dia a dia e, sempre que podia, colocava em prática tudo que aprendera nos cursos de massoterapia que fizera antes de fazer os votos. Muitas das Irmãs eram bem idosas e sentiam dores no corpo, em especial depois de longas orações ajoelhadas. Irmã Raquel nunca hesitava em ajudar, cuidando das Irmãs e do convento com tudo que tinha e podia oferecer.

Todas aceitavam essa ajuda de bom grado. Não demorou muito tempo para Irmã Raquel ser bem vista e querida por todas, que nutriam por ela uma gratidão compartilhada, sem que nenhuma delas duvidasse de sua vocação para o serviço a Deus.

Irmã Raquel amava cada segundo com devoção e estava feliz, de verdade. Rezava bastante, servia a Deus da sua maneira, seguindo as regras do convento, e servia sem hesitar todo o seu tempo livre ao convento e as às freiras ao seu redor. Sua vida era dedicada a isso, exatamente como ela sempre quis.

Entretanto, apesar de fazer tudo isso, tinha uma pessoa que Irmã Raquel nunca ajudava, por mais que tentasse: a própria Madre. Madre Maria sempre recusava qualquer ajuda, especialmente as que fossem para diminuir o seu número de atividades. Nunca demonstrava sequer se as atitudes de Irmã Raquel a agradavam ou desagradavam, se resguardando atrás de uma barreira fria e distante. Depois de algumas tentativas frustradas de se aproximar mais, Irmã Raquel chegou a desconfiar que a Madre sequer gostava de estar em sua presença fora dos momentos de oração, parecendo se levantar exatamente quando ela chegava, ou nunca frequentar os mesmos momentos de lazer.

Coincidência ou não, Irmã Raquel estava intrigada e, se tivesse que ser sincera, um pouco chateada. Não porque queria servir a Madre em específico — embora, de fato, não acharia ruim se o fizesse, porque queria agradá-la também —, mas principalmente porque a incomodava não saber porque estava recebendo esse tratamento.

Irmã Raquel observou e observou, tentando encontrar uma forma de lidar com suas angústias, mas eventualmente percebeu que não havia o que fazer além de conversar com a Madre. Por alguma razão, sentia-se desconfortável com a ideia de adentrar o escritório onde a Madre passava parte dos dias para falar desse assunto, então esperou que passasse um pouco do horário em que a maioria das freiras já tinha ido dormir e caminhou devagar pelos corredores escuros até o quarto da Madre.

O quarto ficava localizado no fim de um longo corredor, cheio de portas altas. O convento ficava em um antigo hotel, doado pela família de um falecido que era católico fervoroso, e fora reformado algumas vezes pelas próprias freiras e pela comunidade ao longo do tempo, mas muito da estrutura original ainda estava ali. Alguns dos quartos eram muito bons, refletindo até mesmo um padrão bem acima do que teria um convento convencional, mas as instruções sempre foram de aproveitar o que elas tinham sem que isso as tirasse do caminho do Senhor, da oração e da simplicidade. Até então parecia funcionar bem, e não era porque os quartos tinham janelas enormes e bonitas, alguns lustres e até banheiras, que a dedicação das freiras mudava.

Irmã Raquel estava pensando na arquitetura do convento enquanto caminhava para distrair a ansiedade acumulada dentro de si. Não tinha medo da Madre, não normalmente, mas naquele momento tinha medo da rejeição. Afastou o pensamento muito rápido, se negando a possibilidade.

De frente para a porta, bateu três vezes, tentando não fazer muito barulho. Esperou alguns segundos, sua respiração tão alta que ecoava dentro de sua cabeça.

— Pode entrar — a Madre respondeu, quase um minuto depois.

Irmã Raquel hesitou, mas eventualmente entrou, fechando a porta atrás de si. Olhou ao redor rapidamente, subitamente curiosa sobre os detalhes ocultos da vida da Madre. O quarto era grande e espaçoso, com uma cama antiga de madeira, com a base de madeira aonde iria um dossel, mas sem panos naquele momento. A janela era ainda maior que a do seu quarto, e um banheiro privativo estava à esquerda. Tinha também uma pequena mesa redonda perto do guarda-roupa e uma poltrona. A Madre estava sentada nessa poltrona, uma bíblia apoiada em seu colo. Não usava o hábito completo naquele momento, provavelmente por já ser tarde da noite. Vestia uma calça de moletom fino, escuro, mas que parecia se moldar às suas pernas. A camisa era lisa, preta e com mangas. Em sua cabeça, o véu ainda tampava seus cabelos. Era comum que as freiras apenas o tirassem quando estavam lavando os cabelos ou logo antes de dormir.

— O que te aflige, Irmã Raquel? — A Madre parecia séria, segurando firme a bíblia sobre o colo.

A Irmã respirou fundo antes de começar a falar:

— Eu… Eu queria um momento de confissão e aconselhamento com vossa Reverendíssima. — As duas ficaram em silêncio por um tempo. — Não precisa ser agora, se não for possível.

— Podemos falar, Irmã. Na verdade, espere um minuto.

Madre Maria se levantou, deixando a bíblia sobre a mesa, e entrou na direção do banheiro. Voltou com uma cadeira simples de madeira e colocou do outro lado da mesa.

— Costumo usar essa cadeira como apoio para não molhar o hábito, ou quando fico lendo passagens da bíblia até tarde na banheira. Está limpa, não se preocupe.

Irmã Raquel não estava preocupada. Não com isso, ao menos. Sentou-se virada para a mesa, mas manteve as mãos sob o colo, ainda um pouco tensa. A expressão da Madre continuava séria, agora observando-a pelo outro lado da mesa, mas isso não poderia impedir Irmã Raquel de falar o que estava sentindo.

— Estou muito feliz nos meus votos de servidão, Madre Maria. — ela começou.

— Isso é ótimo.

— Sim, é ótimo. Em especial, fico feliz de servir não somente na comunidade, mas principalmente aqui no convento, mantendo a casa funcionando para mim e para todas as freiras. Me esforço para sempre conciliar todas as tarefas aqui e sempre estou buscando mais atividades para incluir no meu dia a dia, ajudando em tudo que posso sem faltar com os momentos de oração.

— Eu vejo.

— Sei que meu propósito é servir a Deus, mas também sei que minha felicidade mora também em melhorar a vida das pessoas como eu posso. Gosto de servir, ponto. Mas… ultimamente sinto que vossa Reverendíssima parece… desaprovar tudo isso. — A voz de Irmã Raquel ficou mais baixa, o receio evidente. — Eu só queria entender, de verdade. Sua aprovação é muito importante para mim, Madre.

A Madre não respondeu, ficando em silêncio. Irmã Raquel levantou um pouco o olhar, tentando não deixar as emoções a dominarem. Normalmente ela era um poço de calma e temperança, mas esse assunto há muito estava tirando sua paz. Precisava de uma resposta para poder voltar para o seu dia a dia, ou, se necessário, mudar algo. Como estava não aguentava mais.

Os segundos se arrastaram com o silêncio, virando minutos enquanto a Madre continuava calada, contemplando alguma coisa que não transparecia no seu olhar. Irmã Raquel sentia o coração martelando em seu peito, a tensão virando uma ansiedade nervosa.

— É que eu só quero ajudar, sabe? E você parece estar evitando até me olhar. — Ela começou a falar rápido, as palavras explodindo de dentro para fora. — E eu queria te ajudar também, mas você sempre recusa ou parece irritada quando tento fazer algo para você. Não entendo, não consigo entender e isso está tirando a minha paz.

Madre Maria se ajeitou na poltrona, virando o corpo na direção da Irmã, que ajeitou o corpo também, como reação. A Madre cruzou as pernas, apoiando uma das mãos no queixo e o olhar fixo na Irmã.

— Você tem certeza que quer ter essa conversa, Irmã Raquel? Você pode se arrepender.

Sua voz era autoritária e firme, estremecendo coisas na Irmã como nada antes. Irmã Raquel ficou ainda mais tensa, sem entender exatamente que tipo de coisa poderia ser dita para fazê-la se arrepender dessa conversa. No fundo, entretanto, não importava. Ela queria saber. Mais, ela precisava saber, especialmente agora que a Madre deixara subentendido que, de fato, havia algo a ser dito. Irmã Raquel queria ser melhor.

— Sim, Madre — ela tentou soar firme, mesmo que estivesse se sentindo fraca.

— Muito bem, então. — A Madre começou, o olhar agora quase desafiador. — Quero sua ajuda, na verdade, mas nunca soube se você estava pronta para o que preciso de você. — Irmã Raquel engoliu seco, mas a Madre continuou falando firme. — Todas as coisas que preciso são de bastante importância, cruciais para o bem da minha posição de Madre, e, por consequência, para o bem do convento.

Irmã Raquel estava paralisada, analisando cada palavra dita pela Madre com atenção. A Madre continuou:

— Entretanto, todas as tarefas são secretas. Se decidir me ajudar, só poderemos nos encontrar à noite, em horários como esse, de preferência após a troca de turno das vigílias. — Quanto mais a Madre falava, mais a tensão crescia nos ombros da freira. — Você está pronta, Irmã Raquel? Posso confiar a você esse fardo?

Irmã Raquel não fazia ideia de que tipo de ajuda poderia ser tão importante, tão urgente, tão crucial e tão secreto. Ao mesmo tempo, a ideia de servir a própria Madre, de cuidar de algo tão crítico e essencial para ela e para o convento era tentadora, no mínimo. Ela abaixou o olhar em direção ao próprio colo e ficou em silêncio. Mesmo dessa posição, tinha certeza de que o olhar de Madre Maria não se moveu e ela continuava encarando a freira, aguardando sua resposta.

A freira estava pensando, mas não sabia bem o que estava esperando. Ela queria dizer sim, era nítido, não só porque servir era seu destino, mas também pela curiosidade, que agora estava mais aguçada do que nunca. Ela estava pronta? Vai saber. Jamais saberia se não tentasse, essa sempre foi a sua máxima e foi o que a levou até ali, até o convento. Ela não estava arrependida disso, então não via mal nenhum em dizer sim para outro futuro desconhecido que a aguardava. Além disso, tinha o seu sexto sentido. Irmã Raquel não falava isso com outras pessoas porque talvez fosse estranho falar em sexto sentido e não em toque de Deus quando você era uma freira, mas para ela o nome não fazia diferença, o que importava era a sensação. Algo dentro dela a dizia que essa decisão mudaria completamente sua vida, mas não de uma forma ruim.

— Sim — ela respondeu, finalmente, primeiro séria, mas depois abrindo um sorriso. — Quero te servir, Madre, em especial quando significa que estou também servindo ao convento. Estou pronta para o que for, faça de mim o que precisar.

A fala de Irmã Raquel colocou um sorriso grande no rosto da Madre, parecendo um misto de satisfação com algo mais profundo e indecifrável.

— Ótimo. — A resposta veio acompanhada de um sorriso ainda maior, diferente de todos os que a freira vira no rosto da Madre antes. — Aproxime-se, então. Traga sua cadeira aqui para perto.

Irmã Raquel levantou e arrastou a cadeira para perto da Madre, as duas cadeiras uma de frente para a outra. Sentou-se, sentindo o corpo tenso com a proximidade das duas. Madre Maria abriu a bíblia que estava sobre a mesa e folheou um pouco, como se procurasse algo.

— João 10:14-15, você sabe o que diz, Irmã Raquel?

Ela não sabia. Fez que não com a cabeça, ciente que, mesmo que não soubesse o versículo já na memória, reconheceria qualquer frase dita pela Madre em seguida. Ouvir sobre a Bíblia, para ela, já estava se parecendo com ouvir sobre filmes e livros que ela viu ao longo da vida. Eram histórias que ela guardava no coração.

— “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas”. — A voz da Madre era autoritária, mas tinha um tom de acolhimento.

Irmã Raquel deu um sorriso, esperando a explicação que viria em seguida. Sempre que qualquer um deles citava a bíblia, era sinal de que algo profundo seria dito. Ela estava pronta para ouvir coisas profundas vindas da Madre.

— Não sou Deus, Irmã Raquel, mas sirvo a Ele e, através dEle, cuido de vocês, todas vocês. Preciso de ajuda. — Sua voz foi suavizando conforme ela falava, e Madre Maria se inclinou lentamente na direção de Irmã Raquel, aproximando os rostos das duas. Estavam tão próximas que Irmã Raquel podia sentir a respiração quente da Madre contra sua pele, quente e forte. — Que bom que você aceitou o chamado.

Irmã Raquel sentiu um arrepio percorrer seu corpo, a respiração da Madre ainda queimando em seu rosto, sensações confusas se espalhando dentro de si. Sem reação, ela não disse nada, deixando as emoções se apossarem dela, a ansiedade crescendo em seu estômago. Quando ela estava a um segundo de ter um pequeno surto, Madre Maria voltou o corpo para trás e se apoiou novamente na cadeira.

— Por hoje, leremos algumas das passagens que separei para os meus estudos, apenas para começar os trabalhos, e podemos conversar sobre elas.

Desnorteada, Irmã Raquel concordou, também se ajeitando na cadeira e esticando a saia do hábito.

Nesse dia, ela não dormiu.

Foi assim que tudo começou. Desde então, todos os dias, quando todos já estavam dormindo, Irmã Raquel se levantava, caminhava no escuro até o quarto da Madre, batia duas vezes na porta e entrava.

De início, elas leram bastante. Madre Maria tinha um plano de estudo longo e detalhado que envolvia ler inúmeras passagens, correlacionar acontecimentos bíblicos, tudo visando ter um bom conhecimento a ser repassado para freiras em formação e também para os fiéis, quando necessário. Irmã Raquel sempre leu a bíblia, claro, mas o conhecimento que estava adquirindo junto da Madre era impagável. Fosse só isso já se sentiria importante, em especial nos momentos em que a Madre se debruçava sobre ela para apontar algo em sua bíblia sobre a mesa, apertando o corpo contra a Irmã.

As tarefas começaram a variar depois de um tempo, entretanto. Certo dia, Irmã Raquel ajudou a Madre a trocar as roupas de cama de seu quarto e, depois, foram trocar os ornamentos e tecidos que decoravam a parte pública do convento. Essa tarefa foi longa e adentrou a madrugada, com Irmã Raquel seguindo a Madre pelos corredores do convento segurando o cesto com os tecidos para lavar. Encarando as costas da Madre, Irmã Raquel se perguntava constantemente quando foi que a visão da Madre sem o hábito se tornou comum. Ela nunca estava com roupas indecentes, sempre modesta e sempre com o véu, mas até as camisas e saias cinzas eram algo diferente, algo que Irmã Raquel considerava delas.

Em outro momento, Irmã Raquel passou e preparou os hábitos de cinco novas Irmãs que estavam se juntando à congregação, preparou as camas em seus quartos e limpou tudo para recebê-las. No final das contas, quase tudo que elas faziam juntas eram coisas simples e que talvez pudessem sim ser feitas por outras Irmãs, mas o horário das tarefas, o tempo que passavam juntas, a presença da Madre, seu olhar constante de vigia e o jeito que ela dizia obrigada, você é uma ótima serva de Cristo, tão obediente e estou feliz com você, continue servindo, você nasceu para isso faziam o coração da Irmã bater mais forte e não importava mais o quão mundanas eram as tarefas, eram especiais simplesmente por existirem.

Apesar de tudo que estava fazendo, Irmã Raquel ainda não tinha noção da extensão do seu desejo de servir, não entendia verdadeiramente o quanto queria agradar Madre Maria e do que seria capaz para vê-la satisfeita consigo. Não soube até o dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora, uma data que dificilmente fora escolhida ao acaso.

Quando saiu de seu quarto naquela noite, entretanto, Irmã Raquel não pensou naquele dia como mais especial do que qualquer outro. Ela apenas caminhou pelo longo corredor, os passos silenciosos como sempre, e bateu duas vezes na porta da Madre, como sempre, e então entrou quando autorizada.

Dessa vez, entretanto, o quarto estava vazio. Irmã Raquel olhou ao redor, confusa por um segundo, e então notou a porta do banheiro semi-aberta. Não ousou caminhar naquela direção e ficou encarando a fresta da porta, os azulejos brancos misturados com alguns decorados com flores. Ela não sabia bem o que fazer, então esperou. Tentou levar a imaginação para outro lugar, pensando nas suas tarefas do dia seguinte, na missa que participariam no fim de semana… qualquer lugar distante da imagem da Madre nua no banheiro, porque essa visão era tentadora e confusa demais.

— Venha — a Madre chamou, a voz vinda de dentro do banheiro.

Irmã Raquel sentiu o coração acelerado, um nervosismo no estômago. Com calma, cruzou o caminho do quarto até o banheiro, que nunca pareceu tão longo. Ela sabia que várias das Irmãs mais velhas às vezes precisavam de ajuda para se banhar, em especial depois de longos períodos de oração ou quando adoeciam, mas Madre Maria não era assim tão mais velha. Tinha o dobro da idade de Irmã Raquel, talvez, o que nem de longe era o suficiente para precisar dessa ajuda, não da mesma forma que as outras Irmãs, ao menos. Mesmo com os pensamentos confusos, ela foi.

Terminou de abrir a porta com o coração acelerado no peito, não conseguindo entender o que a esperava do outro lado. Imediatamente na sua frente estava um espelho, por cima de uma pia e uma bancada. Dobrado com perfeição sobre a bancada estava um hábito. Naquele segundo, Irmã Raquel começou a ter ideia da imagem que a aguardava no canto de sua visão. O estômago se apertou de ansiedade e ela respirou fundo uma última vez, como se soubesse que algo grande aconteceria e não haveria mais volta, como se antecipasse o desenrolar daquela noite.

Quando olhou para direita, a Madre estava nua em uma banheira, usando apenas o véu do hábito, a água falhando em tampar os detalhes de seu corpo. Nada naquela cena foi fácil de processar para Irmã Raquel, que ficou imóvel olhando, hipnotizada, em silêncio, sem saber como reagir. A cena dual entre santidade e pecado, a carne e a pureza mistas, o desejo desconhecido florescendo como uma erva daninha — imparável, irrecuperável. Irmã Raquel nada disse, não conseguiu. Madre Maria precisou tirá-la do torpor falando:

— Fiquei sabendo que suas massagens são muito relaxantes, Irmã, e acredito que preciso muito de uma no momento. — A voz dela parecia cansada, mas ainda carregando a firmeza de sempre. — Preparei um banho quente para mim e separei alguns óleos… acredito que uma boa massagem poderia ajudar a soltar meus músculos.

Isso… isso Irmã Raquel podia fazer. De fato, era a única especialidade que adquiriu antes de fazer os votos e a que se sentia confortável praticando. Ok, normalmente as massagens eram feitas dentro dos quartos e não de banheiros, com as Irmãs deitadas em camas e com muito mais roupas… mas era a Madre, e ela com certeza tinha suas razões. No fim, a Madre sabia o que era melhor para ela e o que era melhor para o convento, essa era a única certeza de Irmã Raquel.

Além disso, Irmã Raquel não deveria ter problemas em ver o corpo nu de outra mulher. Tinha sete irmãs, afinal de contas, e isso normalizou todo tipo de interação para ela, que já estava acostumada a ver as irmãs se trocando ou tomando banho. Ela tinha certeza de que não deveria estar incomodada com essa cena, mas a realidade não se importava com as certezas de Irmã Raquel. Tudo que ela conseguia reparar, naquele momento, era no quanto os peitos da Madre eram grandes. Não dava para imaginar nada nem próximo disso quando ela estava vestida com todas as peças do hábito, modesta no dia a dia, mas ali, deitada calmamente na banheira, seus seios se destacavam na água, atraindo a atenção de Irmã Raquel.

Sem entender direito o porquê, ela sentiu sua boca salivar. Nunca antes tinha experimentado essa sensação e engoliu tudo de uma vez, tentando acalmar os batimentos dentro do peito.

— Irmã, o óleo está sobre a pia.

Só então Irmã Raquel percebeu que estava encarando demais. Não importava o quanto tentasse dizer para si mesma que estava tudo bem, estava encarando demais e ainda não tinha dito uma única palavra. Tentando firmar os passos, ela caminhou até a pia. Pegou o óleo e sentiu o vidro gelado sob os dedos, usando a sensação para centrar seus pensamentos e ações. Depois, caminhou até a beira da banheira, deu um último suspiro, tentando tirar de si a falta de controle, e se ajoelhou.

— Seu braço direito, por favor — Irmã Raquel sussurrou, incapaz de levantar a voz, temendo se desmontar inteira.

Tinha plena consciência de que o seu objetivo era relaxar a Madre e não queria que nenhuma bobagem sua atrapalhasse esse momento. Se soubesse, poderia até ter trazido velas e incenso, para melhorar o clima. A Madre tirou a mão direita da água e apoiou na beirada da banheira, esperando.

Irmã Raquel espalhou óleo em suas mãos e pegou primeiro os dedos da Madre, apertando os nós e massageando com cuidado. Ignorou todas a miríade de sensações que tentou crescer dentro de si e focou somente na Madre naquele momento. Subiu para o pulso, cuidando de cada detalhe; apertou o antebraço com movimentos firmes, mas suaves. Ela fez esse caminho algumas vezes, tentando transparecer calma, descendo e subindo pelo braço, espalhando óleo e apertando os lugares certos, sentindo a pele esquentar sob seus dedos.

Quando estava satisfeita, se levantou e ajoelhou novamente do outro lado da banheira. Pediu o braço esquerdo e massageou com o mesmo cuidado — dedos, pulso, antebraço, cotovelo, todo o caminho até os ombros. A essa altura a Madre demonstrava sinais claros de relaxamento, suspirando baixinho de olhos fechados. Vê-la assim, tão entregue, relaxando e parecendo gostar, desfez as últimas amarra dentro de Irmã Raquel. Ela estava agora relaxada também, ciente de que a Madre estava gostando, ciente de que o certo e o errado eram turvos, ou talvez nem existissem, com a consciência desgarrada de qualquer padrão imposto. Seu único desejo latente era ver a Madre ainda mais relaxada, então todos os seus esforços se voltaram para agradá-la naquele momento.

Irmã Raquel desceu a massagem para as pernas, escorregando os dedos oleosos pelas coxas, apertando as panturrilhas, sentindo os ossos dos pés sob as mãos. A pressão era forte, mas também direcionada, e seu talento era nítido. Enquanto cuidava, sua mente se esvaziou de outros pensamentos. A Madre tomou o seu foco por inteiro, suas reações e seu corpo e a massagem eram tudo que importavam.

Irmã Raquel sentiu uma empolgação crescente e, junto dela, cresceu sua ousadia. Desceu novamente as mãos pelas coxas da Madre, afundando as mãos na água para massagear por dentro das pernas, mas tomando cuidado para não encostar onde não devia. Manteve as mãos apertando a região interior da coxa por um tempo, degustando cada suspiro da Madre como se fosse uma hóstia santa, admirando sua expressão de puro êxtase como se estivesse diante do próprio Deus. Irmã Raquel era virgem, mas não era burra. Quando via as reações da Madre ela sabia bem o que cada uma delas significava, mas também sabia que nada que era blasfemo era tão delicioso. Cuidar de outra pessoa assim, tão rendida e entregue, era também alguma forma de divino, ela tinha certeza.

— Irmã Raquel? — A Madre falou em tom de pergunta, os olhos fechados, a voz por um fio. Ela limpou a garganta, parecendo se recuperar de um transe. — Posso te pedir mais uma coisa?

O primeiro pensamento da Irmã foi responder que sim, por favor, que pedisse tudo, absolutamente tudo, que usasse e abusasse dela e de sua boa vontade, que a transformasse em uma serva, se assim fosse sua vontade. Ao invés disso, se limitou a dizer:

— Tudo, Madre. Qualquer coisa.

A Madre respirou fundo, como se estivesse reunindo coragem ou organizando os pensamentos. Irmã Raquel esperou, ansiosa.

— Será que você pode… massagear meus seios? — Ela parou um segundo e então finalmente abriu os olhos, encarando fixamente Irmã Raquel. — Dói. Doem.

Irmã Raquel não conseguia entender se a Madre estava corada ou se quem estava vermelha e nervosa era ela mesma, tamanha foi a sua surpresa ao ouvir o pedido. A resposta não saiu de seus lábios. De fato, a resposta nem mesmo cruzou sua mente, ainda paralisada, atônita. Entretanto, era como se a resposta não precisasse ser decidida, a questão estando decidida por si só. Ela sabia o que faria, ainda que não conseguisse sequer processar o pensamento naquele momento.

O silêncio ocupou os espaços do banheiro por alguns minutos, as duas completamente imóveis, o olhar da Madre ainda contemplando a Irmã fixamente, mas sem expressar descontentamento ou pressão.

Um tempo depois, ainda sem dizer nada, Irmã Raquel se levantou. Caminhou devagar até estar de novo perto da pia e também da cabeça da Madre, preparando seus pensamentos, pronta para ficar de joelhos, mas, antes que ela terminasse suas ações, escutou a voz firme da Madre:

— Não te dei permissão para ir embora, Irmã.

A frase arrancou um sorriso de Irmã Raquel, de tão absurda. Ir embora. Imagina se ela seria capaz de tal atrocidade. Naquele momento ela teria até mesmo entrado na banheira ou virado a noite de joelhos se a Madre pedisse, só iria embora daquele banheiro se fosse obrigada. Rendida, se ajoelhou atrás da banheira, de frente para a cabeça da Madre, que ainda estava coberta pelo véu. Sentindo o estômago em uma confusão indescritível, Irmã Raquel esticou os braços por cima dos ombros da Madre e começou a massagear os seios dela, um em cada mão.

— Eu não ia embora — Irmã Raquel murmurou no ouvido da Madre, sentindo o corpo dela estremecer sob suas mãos.

Os suspiros rapidamente se tornaram gemidos, escapando quentes dos lábios da Madre e soando como louvores nos ouvidos da Irmã. Ela queria mais, desesperadamente. De novo: virgem, sim, sonsa, jamais. A Madre estava gostando, não haviam dúvidas, e também não havia dúvida em Irmã Raquel do que aquilo significava. Ela continuou a massagem, apertando os seios com cuidado, seu olhar fixo no rosto da Madre, decorando cada micro reação. A Madre estava novamente de olhos fechados, os lábios prensados, deixando os gemidos escaparem vez ou outra.

— Aperte os mamilos também — a Madre clamou.

Irmã Raquel hesitou por um segundo, temendo causar mais dor do que alívio. Passou as mãos devagar sobre os mamilos, sentindo-os rijos sob os dedos, antes de finalmente criar coragem para apertá-los. Seus medos não precisavam ser tantos, no fim das contas, porque Madre Maria soltou um gemido alto e gostoso.

Irmã Raquel sentiu o próprio ventre se contrair e o peito esquentar e aproveitou a deixa para continuar os movimentos, alternando a pressão nos seios e nos mamilos. A Madre jogou a cabeça ainda mais para trás, apoiando-a no ombro de Irmã Raquel, e gemeu especialmente para ela, a boca colada em seu ouvido. A freira já não entendia tão bem assim o que estava acontecendo em seu próprio corpo. Tremores se alastraram pela sua pele, o som da Madre causando arrepios, suas pernas um pouco mais fracas nesse momento, o peso do corpo caindo sobre a borda da banheira.

Madre Maria estava ativamente se movendo sob os dedos da freira, aproveitando cada toque, cada aperto e as sensações todas. Irmã Raquel sentiu o momento exato em que a Madre gozou, a pele dela se esfregando contra a sua, sua voz se derretendo em seu ouvido, melódica e arrastada. Os dedos da Madre seguravam forte as bordas laterais da banheira, vermelhos nos nós, e sua expressão era de extremo prazer.

Irmã Raquel já não tinha mais tanta certeza de onde tinha se metido, em especial vendo que seu corpo estava tão afetado, tão inquieto, o ventre desconfortável e a mente desnorteada. Sem saber o que fazer, ela levantou as mãos e trouxe de volta sobre o próprio colo, gotas de água se espalhando pelo hábito. Ficou ali de joelhos, sentindo o coração pulsar no peito, os pensamentos incoerentes em espiral, mas, no fundo, uma certeza fraca de que fez a coisa certa, de que agradou à Madre e isso era bom.

— Espere por mim sentada na cama — a Madre falou sem se mover, sem olhar na direção dela.

A voz dela estava séria de novo e o tom fez Irmã Raquel se levantar de uma vez. As pernas estavam fracas e ela deu passos incertos até a porta, onde se apoiou por um momento antes de caminhar de volta para o quarto da Madre. Ela se sentou na beirada da cama e cruzou as pernas, um pouco desconfortável. Seu coração ainda estava acelerado, seus pensamentos ainda se movendo rápido demais. Em um momento de dúvida, ela se levantou de súbito, pronta para se ajoelhar e começar a rezar, mas acabou se sentando de novo, sem saber o que fazer.

A Madre disse que ela deveria esperar, então queria esperar, mas a cada segundo ficava mais difícil. O tempo se arrastou ali, com Irmã Raquel se remexendo na beirada da cama, e os segundos viraram minutos longos, o tempo perdendo completamente o sentido.

Quando conferiu no relógio ao lado da cama que já estava esperando há vinte minutos, decidiu que ia se levantar e verificar se a Madre estava bem. Se aproximou de volta do banheiro, tentando manter a calma, até que começou a ouvir os gemidos. Deu os últimos passos se sentindo um pouco insegura e precisou se apoiar contra a porta para se recuperar da cena que encontrou: a Madre ainda nua, usando apenas o véu, sentada em uma cadeira, as pernas bem abertas enquanto se tocava, visivelmente molhada em seu ventre. Novamente sem saber o que fazer, Irmã Raquel apenas ficou ali, hipnotizada, observando com devoção.

Madre Maria levantou o olhar e a encontrou ali, visivelmente desnorteada, e abriu um sorriso maternal.

— A curiosidade te venceu, Irmã? — A Madre voltou toda sua atenção para Irmã Raquel, parando seus movimentos por completo. Irmã Raquel acenou, trêmula. — Vamos, venha aqui, se ajoelhe na minha frente.

Irmã Raquel caminhou até ela mais por obediência do que como um pensamento consciente. Se ajoelhar já era algo natural para ela, e, tanto quanto servir e obedecer, fazia parte de todos os seus dias. Caiu de joelhos na frente da cadeira, entre as pernas da Madre, a cabeça baixa.

Não olhou para a Madre de imediato, mantendo o olhar no chão, mas o cheiro a invadiu mesmo assim. Doce, tomando conta dos seus sentidos e se espalhando até mesmo pela sua boca. Ela engoliu muita saliva, sentindo os músculos tensos, e respirou fundo muitas vezes, deixando o cheiro fazer um estrago dentro de si. Quando sentiu que não aguentaria mais, levantou o olhar.

A Madre a encarou de volta de cima, nua, o véu caindo sobre os ombros, o olhar intenso, superior, celestial. O corpo de Irmã Raquel não respondia mais corretamente. A sensação era de que seu coração pulsava em todos os lugares e seu ventre bombeava hormônios explosivos para todo o resto.

— Sua mão direita — a Madre afirmou. Não era uma pergunta ou um pedido, o que normalmente soaria estranho, mas vindo dela era natural. Era uma ordem, sempre uma ordem.

Irmã Raquel levantou a mão e Madre tomou-a com a sua. Dobrou dois dedos, deixando três esticados, e desceu a mão dela entre suas pernas, tão perto de tocá-la. Irmã Raquel estremeceu.

— Você vai mover sua mão para frente e para trás, sem parar, até… — a Madre não terminou a frase, mais uma vez deixando seu olhar cair sobre Irmã Raquel.

A freira corou, mordendo os lábios e abaixando de novo a cabeça. Sabia o que a Madre queria, mas não sabia como fazer, não de verdade. Antes de entrar para o convento era uma adolescente normal, que no máximo viu um ou outro filme com insinuações sexuais, que davam para ela uma ideia do que era sentir prazer, mas nunca tinha feito nada, nem sozinha e muito menos com outra pessoa. Na verdade, nunca antes tinha pensado em outras pessoas dessa forma, nem homens e nem mulheres. Ainda assim, ali estava a Madre, contando com ela. Confiando a ela o seu desejo, a sua satisfação, um ato tão íntimo, um toque tão intenso e notavelmente sagrado. Irmã Raquel temeu falhar.

— Não se preocupe tanto, Irmã, eu vou te ajudar. — Madre Maria desceu os dedos pelo rosto de Irmã Raquel, seu toque suave e gentil. — Você está indo muito bem, está sendo uma ótima serva. Não tema.

Irmã Raquel abriu um sorriso tímido. O nervosismo ainda estava ocupando um grande espaço em seu peito, mas ver o olhar da Madre sobre si, seu toque em sua pele, as palavras de afirmação, saber que estava indo bem… Tudo isso alegrou seu espírito, expandido sua vontade de servir e agradar, então, antes que a Madre precisasse repetir o pedido, ela enfiou os dedos nela, exatamente onde indicado, e sentiu-os úmidos e apertados, um calor subindo pelos pela mão até se espalhar por todo o seu corpo.

Madre Maria pareceu derreter na cadeira, o corpo escorregou um pouco para frente, as pernas se abriram ainda mais, um pequeno rubor apareceu em seu rosto. Seus gemidos voltaram, já soando como uma música familiar e viciante para Irmã Raquel. A Madre começou a empurrar o quadril contra os dedos da freira, seus movimentos somando aos dela e levando-a ainda mais fundo dentro de si.

Irmã Raquel não sentiu a dor que começou a nascer em seus joelhos, não se importou com a fome que despontou em seu estômago, sequer lembrou que no dia seguinte precisava acordar ao nascer do sol para serviços da Igreja. Naquele momento ela só conseguia pensar na divindade da situação, nos sons deliciosos que saíam da boca da Madre, na sensação absurdamente intensa que era tê-la ao redor de seus dedos, quente, úmida, apertada e aberta, se mexendo como quem precisava de mais. A freira nunca sentiu nada parecido, nunca seu corpo esteve tão entregue, tão em sintonia.

Olhar para cima era como ver o divino encarnado à sua frente: Madre Maria nua sobre a cadeira, suor se formando sobre a sua pele, seus peitos grandes e chamativos ostentando um crucifixo preto entre eles como uma moldura, a boca aberta e os olhos fechados, o véu contornando seu rosto, líquidos escorrendo sobre os dedos da freira e pelas coxas da Madre, os dedos dos pés apertados, as mãos segurando as laterais da cadeira.

A freira, sedenta, levou a outra mão até os seios da Madre, repetindo o que acabara de aprender, apertando e massageando os mamilos sensíveis. Era quase um jogo naquele ponto, o objetivo máximo era descobrir como levar a Madre a sentir mais e querer mais, brincando com sentidos dela enquanto se perdia completamente nos seus próprios.

Irmã Raquel estava radiante. Depois de ter sido tão ignorada e rejeitada, ver que ela e só ela era quem estava ali fazendo a Madre feliz e aliviando suas dores e vontades era arrebatador. Ela continuou os movimentos com um sorriso enorme no rosto, explodindo de felicidade, se sentindo tola por ter esperado tanto tempo para ir até ali. Suas pernas estavam fracas, uma sensação intensa e forte se espalhando do ventre para o corpo inteiro, e ao invés de cansar isso a motivou.

Madre Maria estava gemendo mais alto, ainda contida, mas visivelmente mais à vontade. Seu quadril ainda se movia contra a mão da freira e, com uma de suas mãos, ela começou a se tocar também. Irmã Raquel observou a cena maravilhada, se esforçando para não parar o que fazia. Ao se tocar, a Madre pareceu ficar ainda mais excitada e gostar ainda mais, seu rosto ainda mais vermelho e a sensação quente e apertada ao redor dos dedos de Irmã Raquel aumentou e melhorou.

Quando a Madre gozou, fez questão de segurar o rosto de Irmã Raquel para cima, garantindo que ela ia ver o espetáculo completo. Não havia nenhuma chance do contrário, entretanto, porque a freira queria desesperadamente decorar cada detalhe do que estava acontecendo, queimá-los em sua mente como queima o fogo de Deus, jamais esquecido, uma lembrança eterna. Irmã Raquel só afastou os dedos depois que a Madre autorizou, sentindo-os úmidos e melados, a visão desconcertante e deliciosa.

— Você é a melhor de nós todas, Irmã Raquel. Tenho muita sorte de ter você no nosso convento. — A Madre demorou alguns minutos para falar, sua voz agora muito doce.

A freira nunca se sentiu tão completa em toda sua vida.

Nesse dia, Irmã Raquel dormiu chupando os dedos.

Os encontros entre as duas não pararam mais. Depois desse dia, várias vezes por semana a Irmã ficava de joelhos entre as pernas da Madre. No começo, sempre usando os dedos, descobrindo as maravilhas que poderia fazer com as mãos, mas logo depois aprendendo a lamber, saboreando cada gota diretamente nos lábios como se fossem o próprio vinho abençoado por Cristo, seu sangue, divino.

Claro, infelizmente tamanhas descobertas vieram com um preço. Na maioria das madrugadas, Irmã Raquel tinha problemas para dormir. As sensações dentro de si eram imensas, ansiosas, suas vontades cada vez mais descontroladas, mas tudo valia a pena quando, no dia seguinte, não importando o quão cansada estivesse, ela podia de novo se ajoelhar e sentir o gosto da Madre em sua língua.

Seus dias se tornaram ciclos de servidão a Cristo durante a manhã e tarde, e, a noite, cuidava da Madre com todo o seu corpo e alma, em qualquer coisa que ela precisasse. Ansiava por esses momentos com tudo de si, e, durante as madrugadas, sozinha em seu quarto, cruzava as pernas bem juntas, esmagando seus sentimentos confusos que queimavam dentro de si até que conseguisse se acalmar o suficiente para dormir.

No coração de Irmã Raquel, nada poderia ser melhor do que aquilo. Não tinha como nada ser mais intenso e gostoso do que aqueles momentos entre as duas, não havia como sua devoção e servidão trazer mais alegria.

Ela estava errada.

Antes de saber disso, entretanto, Irmã Raquel percebeu que estava viciada. Às vezes, durante um longo dia de orações, ela se pegava lambendo os lábios, buscando qualquer resquício do gosto da Madre em si; beijava os dedos, lembrando da sensação de tê-la quente ao seu redor; fechava os olhos e tinha vívidas as imagens das bochechas vermelhas da Madre; repassava em sua mente tudo que já tinha feito, como se repetisse um filme maravilhoso. Um vício, Irmã Raquel havia adquirido um vício. A ideia não a assustou naquele momento como a teria meses atrás, porque junto do desejo também havia felicidade, uma servidão inabalável a Deus e agora também à Madre, refletindo em tudo que ela fazia no convento.

Em uma noite fria de julho, algumas semanas antes de seu aniversário, Irmã Raquel chegou ao quarto da Madre decidida a fazer um pedido. Era algo simples, no fim das contas, e talvez nem precisasse fazê-lo, dependendo de como seria o decorrer da noite. Se fosse necessário, porém, pediria, porque havia pensado no assunto por tempo o suficiente para ter certeza de que tinha, ao menos, o direito de perguntar.

Quando entrou no quarto naquela noite, a Madre estava inteiramente vestida. Irmã Raquel não conseguiu conter um suspiro um pouco triste, mas tentou manter a expressão impassível. A antecipação queimava em seu estômago como um fogaréu, mas ela caminhou sem hesitar até o lugar onde costumava se sentar na cama ao lado da Madre.

Madre Maria foi, como sempre, cordial e gentil. Perguntou sobre o dia da freira e comentou sobre os preparativos para a próxima novena. Tranquila, claro, enquanto Irmã Raquel ouvia atenta, tentando apaziguar sua ansiedade. Quando a Madre esticou os pés, pedindo a freira uma massagem, algo em Irmã Raquel saiu de controle.

Normalmente a mera presença da Madre já era suficiente para deixá-la em combustão, e uma massagem como essa a deixaria delirando a noite inteira, pensando na maciez de sua pele e nos contornos que tocou com seus dedos. Normalmente isso era suficiente, mas naquele momento Irmã Raquel queria mais e não conseguiu esconder seu incômodo por muito tempo. Estava transparente em seu rosto que havia algo errado, seu corpo incapaz de reagir aos comandos da Madre.

— O que te incomoda, Irmã? — A Madre estava séria e isso fez o coração da freira acelerar. A mera ideia de ver a Madre brava consigo a perturbava.

Ainda assim, Irmã Raquel sabia que precisava falar. Hesitou, nervosa, mas reuniu restos de coragem para dizer, ainda de cabeça baixa:

— Posso te chupar?

Madre Maria não respondeu. Irmã Raquel não conseguiu levantar o olhar, não conseguiu se forçar a encarar a Madre nos olhos, tremendo. O silêncio grudando em seus ossos, apertando seu coração, o medo de ter feito algo de errado agonizando em seu peito. Engasgando nas palavras, ela continuou, temendo que não houvesse mais como reparar a situação:

— É só que… É meu aniversário daqui a duas semanas, sabe? E… e já faz alguns dias que… — Ela não conseguia terminar as frases corretamente, tentando a todo custo encontrar as palavras certas. — Eu… eu senti falta. Do seu gosto. Pensei que…

— Sim.

Só então Irmã Raquel levantou o olhar, surpresa.

— Sim?

— Sim, você pode me chupar, Irmã Raquel.

Fogos de artifício explodiram dentro dela, as inseguranças esmagadas como formigas, a felicidade se expandindo novamente como se fosse o próprio sol. Sem perder tempo, ela se levantou, quase tropeçando, surtando por dentro, e foi para o outro lado da cama, se ajoelhando na borda, ao lado da Madre. Madre Maria se aproximou da beirada e olhou para baixo, analisando a freira. Irmã Raquel sentia seu corpo reagindo imediatamente sob o olhar da Madre, confuso, intenso e desesperador.

Sem comando para obedecer e sem saber exatamente o que fazer a seguir, Irmã Raquel decidiu tomar iniciativa. Com calma, subiu o hábito da Madre devagar, distribuindo beijos pelas panturrilhas. A Madre suspirou ao sentir a língua da freira em suas pernas, seguidas de mais beijos até a saia do hábito estar totalmente levantada.

Irmã Raquel subiu mais os beijos e lambidas, seu corpo inteiro tremendo a cada contato com o da Madre, que estava, claro, sem calcinha. A freira queria se centrar, queria aproveitar, mas sua sede era imensa e estava nublando seu discernimento, agonizando sua alma. Continuou os beijos, cada vez mais perto do que mais queria, e tentou manter as mãos firmes nas coxas da Madre, mas continuava tremendo, não importando o que fizesse.

Estava pronta para se afundar e começar a lamber e sugar quando sentiu a mão direita da Madre em seu pescoço, segurando a parte de trás de seu véu e puxando seu rosto para cima. Irmã Raquel travou inteira no lugar, sendo forçada a encarar a Madre nos olhos, sem desviar. Se sentia nua, exposta, inquieta, sem conseguir entender de onde nascia tanto desconforto e confusão. A Madre era seu porto seguro, não fazia sentido esse medo, não fazia sentido todo esse alvoroço.

Madre Maria puxou mais uma vez o véu, agarrando também os cabelos de Irmã Raquel, tirando-a de dentro de seus pensamentos e a trazendo de volta para a realidade. Doeu, mas foi uma dor gostosa e boa que arrancou um gemido profundo de Irmã Raquel. Envergonhada, ela tentou se abaixar, corando e nervosa, mas foi impedida pela mão firme da Madre, que estava novamente muito séria.

— Irmã Raquel, me diga, quando você volta para o seu quarto, o que você faz?

A pergunta a pegou desprevenida e, mais uma vez, ela tentou desviar o olhar. Ao contrário do que ela esperava, a Madre abriu um sorriso.

— Responda. — O aperto em seu cabelo ficou mais forte, dificultando ainda mais sua concentração.

Madre Maria passou os dedos na lateral do rosto da freira, trazendo de volta sua atenção, colocando-a para olhar de novo em seus olhos, fixamente. Irmã Raquel sentia cada toque, o desespero dentro de si cada vez maior, a ansiedade se misturando à timidez, seu ventre contraído em nervosismo.

— Eu… Nada. Não faço nada.

Irmã Raquel respondeu, mas não se acalmou. O maior problema dela era querer sempre saber a resposta certa para dar, querer sempre ser a serva perfeita, a mais adorável e que mais agradava. Não mentiria para a Madre de forma alguma, mas, acima disso, não conseguia entender o que ela esperava ouvir.

— Nada?

— Às vezes eu… — Irmã Raquel começou, mas desistiu, hesitando.

— Sim. Continue. — A Madre incentivou.

— Às vezes durmo chupando os dedos. Sentindo seu gosto.

O sorriso sumiu do rosto da Madre e Irmã Raquel sentiu a ansiedade se transformar em dor física, se espalhando pelo seu corpo como veneno. O medo de ter respondido algo errado era paralisante, o medo de ver tudo que construíra com a Madre ruir diante de si era sua maior agonia.

— Você nunca se tocou? — A Madre perguntou, por fim.

Irmã Raquel ficou confusa por um momento, a pergunta diferindo de tudo que ela esperava. Ela devia ter se tocado? Não vira a Madre se tocando sozinha, no fim das contas, era sempre ela quem tocava a Madre. Bom, teve aquele primeiro dia, mas desde então Irmã Raquel sempre esteve tão inebriada e envolvida que nunca considerou fazer em si o que havia visto. Todo o seu objetivo e vício estava em sentir a Madre e fazer a Madre sentir, todas as suas ações eram para a Madre e pela Madre, jamais teria esse egoísmo de fazer algo que era somente para si. Ainda confusa, mas um pouco menos ansiosa, balançou a cabeça, negando, e tentou abaixar o olhar, mas a Madre mais uma vez puxou seu rosto de volta.

— Olhe para mim, pare de desviar o olhar. — Séria, a Madre era sempre tão séria. Irmã Raquel nunca iria se acostumar com esse tom de voz cortante da Madre. — Seu aniversário é em duas semanas, você disse?

— Sim, Madre.

Madre Maria pareceu pensar por um segundo antes de responder.

— Você não vai me chupar hoje.

Irmã Raquel não escondeu a expressão triste. Teve certeza, naquele momento, de que fizera algo errado, de fato. Como podia a Madre simplesmente negar o seu pedido mesmo depois de conversar com ela. Bem a tempo, a Madre continuou, cortando sua espiral de pensamentos ruins:

— Na próxima semana, te passarei uma tarefa. A mais difícil que você já fez até hoje, tenho certeza, mas também tenho certeza de que você está mais do que pronta para ela. Lembre-se, você é a melhor de nós, Irmã Raquel.

A freira, concordou com um aceno, ainda segurando algumas lágrimas que queriam escapar de seus olhos. Estava triste, sim, mas ainda gostava de ouvir a Madre a elogiando.

— Se tudo correr bem — a Madre continuou —, como sei que correrá, no dia do seu aniversário te recompensarei como em Salmos 19:9, te recompensarei por me obedecer.

Irmã Raquel concordou de novo, sem hesitar, completamente rendida e entregue, já se sentindo tola de ter um pedido tão bobo diante dos planos enormes que a Madre tinha para ela. A essa altura, Irmã Raquel iria para o inferno se Madre Maria pedisse.

— Entretanto, tenho uma condição, e começa a valer a partir de agora. — A Madre estava soltando a informação a conta gostas, como se estivesse saboreando a montanha-russa de emoções da freira. — Nunca te pedi isso antes, mas agora estou mandando: você está proibida de se tocar até segunda ordem. Sei que te dei a ideia, mas também sei que você é obediente. Saberei se você quebrar essa regra, Irmã.

Irmã Raquel não sabia dizer como era possível que a Madre soubesse caso ela tivesse se tocado, mas também tinha certeza de que era verdade, porque era a Madre quem dizia. Não pretendia quebrar a regra, de qualquer forma, nem que ficasse insuportável, nem que a curiosidade a matasse. Obedeceria à Madre mesmo que isso custasse sua sanidade, até mesmo sua vida. Esperaria, porque a recompensa seria grande.

— Sim, Madre Maria. Farei conforme ordenado.

— Falando nisso, a partir de agora me chame apenas de Madalena.

Irmã Raquel sentia todo o seu corpo arrepiado e tenso.

— Sim, Madre Madalena.

A Madre soltou o rosto da freira, enfim, mas seu olhar ainda queimava de cima, um lembrete dos tratados feitos entre as duas.

— Vá. Tome um banho rápido e escove bem os dentes antes de se deitar. Não te quero lambendo dedos e lábios hoje, nem nos próximos dias.

Ela levantou ciente de que obedeceria. Obedeceria qualquer coisa. Tudo que fosse necessário.

Esperaria por esse aniversário como se fosse seu último.

O temor do Senhor é puro

e dura para sempre.

As ordenanças do Senhor são verdadeiras,

são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro,

do que muito ouro puro;

são mais doces do que o mel,

do que as gotas do favo. Por elas o teu servo é advertido;

há grande recompensa em obedecer-lhes.

Salmos 19:9-11

Empolguei MUITO enquanto fazia esse e espero que você tenha gostado tanto quanto eu! Lembrando que teremos parte 2!!!!!!!! E espero que essa chegue em um cronograma mais normal ;)

Se quiserem falar sobre, como sempre minha DM está aberta e o curiouscat também! Você também pode entrar no meu servidor no discord, o Kaleidomosmik.

É isso! Um xêro e um queijo,

Kodinha

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