#1 - Spillways - Kinktona - Isabelle Morais

abrindo a kinktona com o pé na porta

Olá querides safades, tudo bom?

Estou aqui hoje muito feliz de declarar aberta a kinktona, a maratona kink do Só uma rapidinha! A partir de hoje e até o dia 04 de dezembro teremos textos novos por aqui toda semana, cada um de uma pessoa convidada diferente, e todos muito queer e kink!

Vocês estão prontes? (estamos capitão!)

Sem muita enrolação, vamos pra parte boa :)

Quem escreve pra vocês hoje é a Isabelle Morais!

Apresentação

Isabelle Morais (ela/dela) — instagram, bluesky — é escritora de Brasília e parte do jurídico do Lestat de Lioncourt. Escreveu a série Alquimistas, que hoje conta com duas histórias (Tratado sobre Tempestades e outros fenômenos extraordinários, Estudo sobre Amor e outros venenos letais e os extras), o continho O Horror da Fazenda São Lázaro, que é horror e não tem nem romance nem hot, apenas avôs ruins e o conto O fantasma vem para a festa, presente na coletânea Aqui quem fala é da Terra da editora Plutão.

Bells e eu compartilhamos o mesmo neurônio quando o assunto é romance erótico e meu convite para que ela fizesse a abertura dessa maratona kink foi muito acertado. É só o começo dessa jornada, mas tô muito feliz e honrado de Bells ter topado participar e ser a pessoa a abrir esse projeto.

Lembrem-se de conferir a lista de aviso de conteúdo logo no começo do texto e se mantenham segures! Bora?

Se quiser contribuir com o trabalho da Bells, considere doar qualquer valor para [email protected] para a ajudar a continuar contando histórias.

Aviso de conteúdo

enemies to lovers, feitiço de luxúria (inferido), praise kink, body worship, açúcar d+ cuidado diabéticos, soft femdom, I'll love the trauma out of you

Spillways

A batida da música ressoava no fundo da garganta, pulsando como um segundo coração, uma distração bem-vinda ao nervosismo que começava a se formar no pé da barriga dela. Uma parte de si tinha convicção de que aquela era uma péssima ideia, que trazer Miguel até o Templo era o maior erro que cometeria em sua vida, que nada de bom poderia sair daquilo. Olhou de soslaio por cima do ombro para o anjo que a seguia pelo longo corredor até o Santuário e ele levantou o rosto apenas o suficiente para cruzarem o olhar, a determinação de aço marcada na ruga na testa dele e na expressão séria, como se estivesse se preparando para uma grande provação.

— Você tem certeza disso? — perguntou pela milésima vez, sem diminuir o passo. — Acho que vai ser demais para você.

— Não presuma que sabe qualquer coisa sobre mim — falou ele naquele tom que a fazia querer lhe dar um tapa e que sempre vinha seguido da hesitação deliciosa que ele sempre exibia quando dizia o nome dela —, Lúcifer.

— Não diga que não te avisei. — Ela curvou o canto dos lábios e voltou a olhar para frente, dando de ombros.

Um acólito esperava na porta do Santuário, com uma expressão agradável em seu rosto que foi substituída pelo espanto quase imediatamente ao ver o anjo atrás dela. Luci sabia exatamente a impressão que Miguel causava. Com a asa restante fechada em suas costas, as penas de um tom dourado fosco parecendo devorar toda luz que a tocava, a altura imponente e o olhar intenso que ele era incapaz de suavizar, parecia a vingança personificada, um juiz capaz de ver todos os pecados que alguém já cometeu. O acólito deu um passo para trás, olhando para Luci novamente, hesitante, e ela suspirou.

— Ele está comigo — explicou, com um gesto na direção do anjo que sempre insistia em andar três passos atrás dela.

— Sou prisioneiro dela — Miguel corrigiu prontamente e ela revirou os olhos antes de assentir.

— Isso, que seja.

Os olhos do acólito pareceram brilhar na luz baixa e ele avaliou Miguel, dos cabelos escuros cacheados, passando pelo peitoral nu e pelas coxas grossas cobertas por um jeans escuro, até as botas que o anjo usava. Depois de parecer devorá-lo com o olhar pelo que pareceu uma eternidade, se voltou para Luci com um sorriso cúmplice, anotando algo na prancheta. Ótimo, era exatamente aquilo que Luci precisava, que achassem que o líder caído da Casa inimiga à dela era seu submisso em tempo integral.

— Vai querer a sua alcova privativa? — perguntou, por fim.

Luci ponderou por um instante antes de assentir, a confusão de Miguel algo quase palpável às suas costas enquanto o acólito pegava a chave em um claviculário escondido atrás de uma cortina de veludo e lhe entregava.

— Para o caso de você não aguentar — ela explicou quando passaram da cortina que separava o corredor do saguão, a música ficando mais alta. Entregou a chave na mão dele. — Cuide com carinho.

Miguel segurou a chave com força e pareceu prestes a dizer algo malcriado, mas ela foi mais rápida e abriu as portas altas e esculpidas que os separavam do Santuário, deixando as luzes de neon do cômodo à frente, a música e o cheiro de suor e outros fluídos os atingirem em cheio. Deram um passo à frente e quando a porta se fechou atrás deles, Luci permitiu que Miguel se acomodasse ao ambiente antes de seguirem.

Era uma nave de igreja, a primeira reaproveitada pelos demônios quando chegaram àquela cidade, depois de a tomarem para si. O teto continuava ornado com pinturas de criaturas como eles, em uma história que todos eles sabiam ser mentira, mas o resto não poderia ser mais diferente. Mais à frente, onde ficaria o altar, Asmodeus controlava o som com um fone grudado em um ouvido, uma mecha do cabelo cacheado caindo sobre o rosto, apenas uma jaqueta de couro e um harness no torso nu, os seios escondidos pelas tiras de couro. Como gostava de se exibir e era o homenageado da noite, o melhor amigo de Luci havia deixado as asas marrons aparentes, o rosa neon que o iluminava pintando-as de furtacor e criando uma sensação caleidoscópica ao seu redor. Logo à sua frente, corpos se esfregavam em diversos níveis de nudez ao ritmo decadente e sombrio que saía dos alto-falantes, idolatrando-o com o pecado que lhe cabia, a Luxúria.

Só aquilo foi o suficiente para Miguel arregalar os olhos e ficar boquiaberto, como se nunca tivesse saído de casa na vida, completamente paralisado. Luci olhou ao redor da nave, olhando o bar onde Bel montava drinks em uma velocidade quase industrial; o canto escuro onde Azazel e Mamon faziam seus negócios; o divã vazio onde uma Astaroth nunca mais se deitaria. Cada cantinho daquele lugar tinha um pedaço de uma história que anjos como Miguel desprezavam, a história do povo dela, as dores e os triunfos e as guerras e as felicidades, todas escondidas nos pequenos detalhes, das marcas de bala nas pilastras à estátua gigantesca da bisavó de Luci que adornava o fundo da nave.

Voltou a se sentir apreensiva — o que ela estava pensando, levando um anjo ali, para o lugar mais sagrado para eles, para o lugar mais profano para pessoas como ele?

Miguel se aproximou mais dela e, em um reflexo, Luci segurou a mão dele, que a agarrou com força, quase como uma criança com medo. Era aquilo que a pegava toda vez, como por baixo de toda aquela faceta de arrogância e auto importância de Miguel havia uma vulnerabilidade que escapulia todas às vezes que ele se descuidava. Havia um certo desespero, um medo que ela entendia muito bem. Foi por isso que ela decidiu acolhê-lo quando sua guarda-costas o encontrara ensanguentado, despedaçado, traído, no deserto que separava suas cidades. Foi por isso que ela o ajudou a pensar em um plano para a vingança que ele tanto queria e o levara até ali. No final, quando pensava no assunto de forma mais direta, Miguel entregara seu destino inteiramente nas mãos dela e ela aceitara sem pensar duas vezes. Seu maior pecado sempre fora sua compaixão, não havia o que fazer.

— Bom, pelo menos eu não sou o único com a asa de fora — ele quebrou o silêncio entre eles com certo humor, e ela gargalhou.

— Nem o único com os peitos de fora — Luci complementou, sentindo um calor no pé da barriga com o pequeno sorriso que arrancou dele.

Miguel olhou para o cômodo mais uma vez, com a linha dos ombros visivelmente tensa, e entrelaçou os dedos com os de Luci, segurando-a com mais firmeza, como se ela fosse a âncora dele no meio daquilo tudo. Luci podia sentir a pulsação de Miguel acelerada contra a sua, a pele parecendo queimar, e um leve rubor se espalhou pelas bochechas do anjo conforme compreendia o que acontecia ao seu redor. Ela mordeu os lábios para não provocá-lo, se contentando com a sensação deliciosa de observar um homem tão grande e tão orgulhoso ficar sem jeito.

Depois de uma música, Miguel só acenou com a cabeça, respondendo a uma pergunta que nunca fora feita, e Luci levantou uma sobrancelha e se inclinou na direção dele, grudando parte do seu corpo contra o braço dele. Ficou na ponta dos pés e falou no ouvido dele:

— Você precisa dizer o que quer, Miguel. Em voz alta.

O pomo de adão de Miguel se moveu quando ele engoliu em seco, o peito subindo e descendo um pouco mais rápido e ele lambeu os lábios. Ela não trabalhava com suposições nem com inferências — um desejo que não era vocalizado de nada valia, um contrato baseado no que estava em entrelinhas era nulo. Miguel sabia muito bem que se queria alguma coisa dela, qualquer coisa, teria que pedir.

— Podemos ir. — Ele lambeu os lábios mais uma vez, encarando-a. — Estou pronto.

Luci não tinha tanta certeza disso, mas era o que ele queria, então o guiou sem soltar sua mão, a música os envolvendo completamente conforme se aproximavam da pista de dança. A melhor forma de alcançar o objetivo deles era aquela: atravessar a pista de dança para que todos os vissem, jogando qualquer tentativa de ser discretos para o ar. Seria mais do que o suficiente para que soubessem com quem ela estava naquela noite, para o boato se espalhar até Éden, até o novo Miguel, o traidor. Seria o suficiente para que ele soubesse que o plano não havia dado certo e, pior, o ex-líder estava sob a proteção da pior inimiga que eles poderiam ter. O seu Miguel esperava que assim houvesse justiça, mas ela não era ingênua. Justiça e vingança não combinavam.

Miguel parou abruptamente às margens do mar de gente e só então ela percebeu que ele falara algo que se perdera em seu devaneio e parara para que ela pudesse ouvi-lo. Se virou para ele irritada, já se preparando para a briga que estava por vir. Podia imaginar o que ele iria dizer: jamais me misturaria com essa gente. Eu não dou mais um passo nesse antro de perdição, vamos embora. Que lugar desprezível. Luci não deveria ter baixado a guarda nem se iludido achando que aquele plano idiota daria certo ou que poderia haver qualquer coisa além de sobrevivência no jeito em que ele se entregara para ela.

No entanto, bastou um olhar para ele para entender que estava errada. As luzes dançam pelo rosto dele, acentuando cada uma de suas feições de cada vez — os olhos de uma cor que ela nunca conseguia definir, a preocupação visível na tensão em sua testa; o nariz grande, que descia em curva e parecia a única coisa fora de lugar num rosto que rivalizava as pinturas e as estátuas que os rodeavam e que de alguma forma, só o deixavam mais perfeito; os lábios grossos, entreabertos como sempre ficavam quando ele estava pensativo, a língua os umedecendo como se ele estivesse prestes a falar algo. Aquele não era Miguel, o arcanjo orgulhoso que era chefe da Casa da Humildade; não era o anjo quebrado que ela salvara meses antes; era uma terceira coisa, algo que pertencia só a ela, e que nunca a trairia.

Ela só podia estar completamente maluca.

Miguel falou mais alguma coisa que se perdeu na música e ela deu um passo à frente, levando uma mão à nuca dele para puxá-lo mais para perto. Em um reflexo, ele passou uma mão pela cintura dela e quando ela viu, estava nos braços dele, a respiração quente contra seu ouvido, o coração dele acelerado contra seu peito. E então ele repetiu:

— Eu disse que não sei dançar, Luci.

O coração dela pareceu dar um salto ao ouvi-lo dizer seu apelido, e já que ela havia abandonado o juízo em algum momento entre se virar para olhá-lo e parar ali, colada a ele, ela respondeu:

— Não tem problema, vem que eu te ensino.

 

****

 Se alguém lhe dissesse, seis meses antes, que algum dia ele estaria em um Templo de demônios, no meio de uma pista de dança rodeado por corpos suados e seminus, tentando se movimentar no ritmo de uma música que parecia ferver seu sangue, ele mandaria trancafiar a pessoa nas masmorras da Casa da Humildade por blasfêmia. Mas ali estava ele, seu coração acelerado a cada sorriso da demônio à sua frente, gravitando-a como se ela queimasse tão forte quanto o sol.

Na primeira vez que vira Lúcifer — o grande inimigo, o bicho papão que assombrava as histórias de ninar de Eden, o que ousou desobedecer às ordens mais sagradas deles — teve certeza de que tudo que falavam sobre demônios era certo. Claro que seu grande inimigo seria a criatura mais bonita que ele já vira, uma tentação ambulante que amava lhe dizer o que fazer, a própria personificação de tudo que existia de decadente e hedonista. Toda Sheol era assim, desavergonhada, imoral, irracional, tudo que ele não deveria ser, tudo que ele não deveria desejar, tudo que deveria controlar.

Tudo isso a troco de quê? Vinte e três facadas e uma traição que doía mais do que qualquer coisa, mais do que perder uma das asas, mais do que toda a tortura, mais do que se arrastar por dias no deserto. Elias era seu primo, seu confidente, seu amante, a única pessoa em que ele confiava completamente, a única pessoa que ele amava, e ele apenas o usara e tomara seu lugar sem remorso algum. Se isso era ser virtuoso, ele preferia a perdição. E a justiça viria de suas mãos, e não de Deus.

Miguel havia encontrado muito mais compaixão em seus inimigos do que com quem compartilhara tudo com ele. Mais compreensão, mais sinceridade, mais risadas. Havia algo de elétrico e empolgante e delicioso na forma como os demônios apenas se entregavam às suas paixões, fossem elas quais fossem, sem culpa. Não era que não houvesse lugares como aquele em Éden — Miguel mesmo já havia se esgueirado para os clubes privados e confidenciais algumas vezes, arrastado por Elias —, mas eram uma vergonha, um segredo, clandestinos. Nada era tão livre. E estar no meio da multidão, rodeado de corpos quentes e cheios de desejo, com a música pulsando em suas veias, o fazia entender exatamente porque Luci chamava aquele lugar de Templo.

Toda Sheol era como aquele lugar. Desavergonhada. Imoral. Irracional. Tudo o que ele mais queria ser.

— Relaxa — Luci berrou alto o suficiente para ele a ouvir, tirando-o do quase-transe em que entrara. Depois, ela venceu o pouco espaço que havia entre eles e ficou na ponta do pé para falar perto de seu ouvido: — Deixa a música fluir e levar seus movimentos.

Luci o segurou pelo quadril com firmeza, o dedão e o indicador na pele logo acima da calça dele espalhando labaredas pelo seu corpo, roçando de forma enlouquecedora enquanto mostrava a ele como se mover. Ela mordeu o canto dos lábios, na expressão travessa favorita de Miguel, se movimentando no mesmo ritmo que o induzia, o vestido preto subindo pelas coxas a cada movimento do quadril, os cachos loiros beijando a pele exposta no decote no ritmo da música. Miguel a abraçou pela cintura, obedecendo-a, sentindo sua respiração se acelerar a cada roçar de coxa, se concentrando ao máximo na música porque não responderia por si mesmo se focasse nos toques.

Mas ela era a rainha das tentações — e subiu uma mão pela barriga de Miguel, por seu peitoral, até seu ombro, as coxas se entrelaçando ainda mais, e encostou a cabeça em seu ombro, a respiração quente contra o pescoço de Miguel arrepiando-o por inteiro. Como se não bastasse tudo aquilo, ela encostou o nariz contra a bochecha dele e falou:

— Bom garoto, é desse jeitinho mesmo.

O elogio o atingiu como um raio, fazendo-o fechar os olhos, perdendo qualquer controle que poderia ter de suas reações. Ele não estava acostumado a elogios — em casa, tudo que sempre fizera não era mais do que sua obrigação, ele era imperfeito e incompleto, nada que fizesse jamais seria suficiente. Mas para Luci, uma coisa simples como aquela, movida por sua luxúria, lhe rendia elogios, lhe rendia sorrisos, lhe rendia aquele olhar de aprovação que o deixava louco. Ele se sentia seguro, querido, apreciado. Fazia com que quisesse se ajoelhar ali mesmo e afundar o rosto entre as pernas dela, idolatrando-a como ela merecia.

A música mudou gradualmente para algo mais lento, em um ritmo mais constante, e Luci o abraçou pela nuca. Miguel deslizou as mãos mais para baixo, sentindo o coração prestes a explodir, seu pau latejando dentro da calça. Era impossível não sentir uma pontada de vergonha quando pensava na situação, mas Luci encostou os lábios contra o pescoço dele e dissipou qualquer vestígio de decoro que ele poderia ter. Miguel afundou o rosto no cabelo dela, o perfume de magnólia misturado com algo cítrico como um bálsamo. Ele poderia ficar ali a vida inteira, grudado contra ela, sob o seu toque gentil e seus suspiros, os batimentos cardíacos dos dois parecendo virar um.

Quando ela olhou para cima, o coração dele esqueceu como bater direito. Luci molhou os lábios entreabertos, os olhos escuros e pesados de desejo, e passou o dedão na artéria do pescoço de MIguel, subindo pelo queixo, até os lábios, como se estivesse decorando as feições do rosto do anjo com as mãos. Ele queria beijá-la. Ele queria que ela o beijasse. Ele queria muito, muito, mais do que qualquer coisa, mas parecia um passo a mais, algo que ele não era digno de ter. Então apenas virou o rosto para encostar os lábios na palma da mão dela, fechando os olhos e sentindo-a suspirar pesadamente contra o peito dele. Não havia nada além daqueles toques, daquele desejo, nada além de Luci.

— Você precisa dizer o que quer, Miguel — Luci ecoou o que dissera mais cedo, os seus olhos escuros de desejo. — Em voz alta.

A respiração de Miguel ficou presa na garganta, a pulsação acelerada rugindo nos seus ouvidos. O que ele queria? Ele queria que ela não parasse de fazer o que estava fazendo, de tocá-lo, de olhá-lo daquele jeito. Queria que ela o puxasse para um canto escuro e o usasse como bem quisesse, que saciasse todo e qualquer desejo que tivesse. Queria que ela o mandasse se ajoelhar e o exibisse como sua propriedade para todo o Templo, para que todo mundo soubesse que ele tinha dona. Queria que ela o punisse até que ele parasse de sentir a culpa que ainda mastigava seu estômago, permitindo-o finalmente se entregar ao prazer que sempre encontrava na dor das suas penitências. Queria idolatrá-la como se ela fosse a única verdade e a luz que guiava sua vida. Ele queria tudo.

— Faça o que quiser comigo. — Foi o que acabou falando, a voz rouca e falha. — Me beije. Me puna. Me use. Eu não me importo o que seja, desde que seja você.

***

As palavras de Miguel a atingiram como um terremoto, como uma hecatombe nuclear que obliterava tudo que tocava. Luci sabia, em algum nível, que ele a desejava, mas nem em seus sonhos mais loucos — e cada vez mais frequentes — ela o imaginara se entregando assim, tão fácil. Tão completamente. Sentiu as pernas trêmulas e agradeceu silenciosamente por estar apoiada contra ele.

Ela deslizou a mão que Miguel beijava até sua nuca, fazendo-o se curvar até as testas dos dois se encontrarem, até seu corpo estar colado no dele, seus lábios a centímetros de distância.

— O que eu quiser? — Provocou, abraçando-o com a outra mão pela cintura.

— Tudo. Qualquer coisa. — Miguel estava com a voz rouca, a respiração ofegante contra a pele de Luci e um rubor delicioso pintava suas bochechas.

— Qualquer coisinha? — Luci deslizou a mão da cintura para as costas até encontrar o lugar onde a asa dele saia das escápulas, sentindo-o estremecer por completo com seu toque.

— Depende. Se você não me beijar neste instante talvez eu morra — Miguel murmurou.

Ela gargalhou e subiu a mão ao longo da asa, sentindo a textura macia e aveludada na ponta dos dedos. Observou com deleite a forma como Miguel fechou os olhos e soltou um gemido fraco quando ela enfiou os dedos por baixo de uma das penas, alcançando pele que havia ali por baixo, e Luci sentiu o calor irradiar do pé da barriga para o seu corpo todo ao ouvir o pequeno gemido que ele deixou escapulir.

Eu mando aqui. Vou beijar você quando eu quiser.

— Então me puna por ser insolente — ele sugeriu e abriu os olhos, encarando-a com suas íris douradas, com um fantasma de um fantasma de sorriso.

— É isso que você quer? — Luci perguntou, e se aproximou mais uma vez do ouvido dele, dessa vez colando os lábios contra eles antes de continuar: — Que eu leve você lá para cima, e amarre em uma cruz e te chicoteie até você se esquecer de tudo, até ser só eu e você?

Miguel engoliu em seco, a respiração parecendo ficar presa na garganta, e suas bochechas ficaram mais vermelhas ainda. Com a forma como as coxas deles estavam entrelaçadas, ela conseguia sentir a pressão da calça contra a sua pele e precisou de todo o seu autocontrole para não o beijar ali, para não o empurrar contra uma parede, abaixar o zíper da calça dele e resolver o problema dos dois de uma vez por todas. Ele com certeza não negaria, no estado em que estava.

Mas sabia que Miguel se arrependeria quando voltasse a si. Luci conhecia bem a influência da Luxúria e tinha resistência o suficiente para manter alguma clareza mesmo com o fogo que cada batida da música de Asmodeus acendia dentro dela, acentuando todos os desejos que ela tentava ignorar. Se aquela fosse a única chance que teria de provar cada centímetro de Miguel, de descobrir que tipo de provocações o faziam gemer alto, de fazê-lo se livrar do peso do decoro que sempre carregava, queria estender o momento o máximo possível. Queria aproveitar cada segundo, dar a Miguel exatamente o que ele precisava — e naquela noite, definitivamente não era dor. Ela se recusava a ser só mais uma penitência de uma lista interminável.

— Eu tenho algo muito melhor pra você — sugeriu Luci e se desvencilhou do corpo dele, segurando o riso com a expressão confusa no rosto do anjo. Ela estendeu a mão para ele segurar. — Vem comigo.

De alguma forma, a sensação dos dedos de Miguel entre os dela, roçando contra a sua pele enquanto caminhavam, parecia muito mais íntima enquanto cruzavam a nave da Igreja até a área exclusiva da Casa do Orgulho, como se algo fundamental tivesse se alterado desde o momento em que pisaram ali. Parecia mais sensual do que qualquer passo de dança, cada movimento fazendo seu coração descompassar mais um pouco. Luci sequer prestou atenção no caminho, e quando se deu por si, estavam na frente da cortina roxa e pesada que cobria a porta dos seus aposentos privativos. Respirou fundo para se recompor quando soltaram as mãos e levantou o tecido com um gesto teatral para a porta.

Miguel enfiou a mão no bolso de trás da calça e produziu a chave com habilidade, sem titubear um instante enquanto a encaixava na fechadura e com um clique, destrancou a porta pesada de madeira.

— Lembra o que eu disse de morrer? — ele murmurou, sem olhar na direção dela, claramente sem jeito. — Acho que tenho apenas aproximadamente trinta segundos de vi—

Lúcifer não esperou que ele terminasse de falar, finalmente fazendo o que desejava desde a primeira vez em que vira Miguel: o empurrou contra a porta e o puxou pela nuca, colando os lábios nos dele, devorando a última sílaba da palavra, enrolando os dedos nos cachos escuros. Miguel a segurou pela cintura, uma das suas mãos logo abaixo da curva de um seio de Luci e a outra a segurando pela bunda, enquanto se abria para que ela o explorasse, para que provasse o sabor delicioso de mel e rosas da boca dele. Ele gemeu baixinho quando ela mordiscou seus lábios e os chupou lentamente, e subiu a mão para envolver um dos seios dela, devorando o gemido de Luci. Era como estar no meio de uma fogueira, seu corpo todo se acendendo com o movimento de suas línguas, com a fricção contra a ereção de Miguel, como os toques e gemidos.

Com uma das mãos, Luci abriu a maçaneta e o empurrou para dentro da alcova, acendendo a luz próxima à porta com fluidez, seus corpos grudados, Miguel segurando-a para que ela não se desequilibrasse quando a porta bateu com força atrás dela. Ela desceu uma mão pelo tórax do anjo, traçando o caminho de pelos que desapareciam no cós da calça, até enfiar um dedo no espaço entre o tecido e a pele, enquanto o beijava no queixo, traçava seu maxilar com a boca, as bochechas, empurrando-o para trás passo a passo até chegar no sofá púrpura encostado em um dos cantos do recinto.

— Tire a roupa e sente — ordenou e nunca na vida viu alguém se livrar de duas peças de roupa tão rápido, sem elegância nenhuma, só desejo puro e simples.

Miguel se acomodou no sofá, ofegante, vermelho até os ombros, os lábios inchados e o cabelo desgrenhado. Luci admirou seu trabalho com orgulho, em especial as marcas do batom marrom que pintavam a pele cor de oliva dele. Então deu um passo para trás para poder vê-lo por completo, descendo o olhar demoradamente, apreciando como os ombros largos e o peito se afinavam na cintura, como a trilha de pelos escuros descia até os quadris dele, desaparecendo no lugar onde ele se cobria com as mãos, em um gesto de modéstia inesperado. Ele era tão bonitinho, com vergonha de ficar pelado. Como ele esperava que tudo fosse acontecer? Com as luzes apagadas e os dois completamente vestidos?

Mas apesar da leve tensão nos ombros de Miguel, ele a observava de forma voraz, o olhar correndo pelo rosto de Luci, descendo pelos seios fartos, acompanhando o desenho de suas curvas, até parar nas coxas, no ponto onde o vestido havia subido quase até o quadril. Ele lambeu os lábios, os olhos pesados de desejo. Luci deu um meio sorriso e subiu as mãos lentamente pelas coxas, até a barra do vestido, e Miguel se inclinou para frente, engolindo em seco, apoiando uma mão fechada em cima do próprio joelho, parecendo hipnotizado.

— Você é tão bonzinho — Luci falou, parando as mãos logo antes de sua calcinha de renda aparecer.

— Eu... sou? — Ele perguntou, a voz rouca, incapaz de desviar o olhar de onde ela desenhava círculos na pele das coxas.

— Qualquer outra pessoa em seu lugar já teria pulado em cima de mim.

— Por que eu faria isso? — Miguel finalmente levantou o olhar, a testa franzida, como se aquela ideia fosse absurda. — Eu não... Eu não sou digno de encostar em você assim.

Luci sentiu seu coração se partir um pouquinho com o tom com o qual ele falou aquilo, com a sombra de tristeza que passou em seu olhar, com tudo que estava implícito naquelas sete palavrinhas. Ela se aproximou dele devagar, em silêncio, observando a mudança em sua expressão, a sombra de medo por trás da excitação.

O que fizeram com você?, ela quis perguntar. Mas, em vez disso, levantou o queixo dele com um dedo, fazendo-o olhar para ela, e com a outra mão, acariciou seus cachos da nuca. Miguel prendeu a respiração embaixo do toque dela, em uma tensão visível, como um cachorro acostumado a ser maltratado, como se tivesse certeza que aquela mão se viraria contra ele. Ele podia até ter gostado da ideia do chicote, e talvez até aproveitasse no futuro, mas naquele estado em que estava? Não havia nada ali além de medo e culpa, nenhuma gota de excitação, nenhuma gota de diversão. Era o que ele achava que merecia, não o que ele de fato queria.

— Eu vou te mostrar exatamente do que você é digno — ela murmurou, acariciando o rosto dele e se inclinou para beijá-lo suavemente, sentindo-o derreter sob seu toque.

O beijo foi deliberadamente lento, as línguas deslizando uma sobre a outra, as respirações virando uma só. Ela se sentou ao lado de Miguel no sofá, uma mão espalmada sobre a barriga dele, e o beijou no canto da boca, no queixo, seguindo a trilha de batom anterior, até chegar em seu pescoço e lamber a artéria que pulsava ali bem devagar. Ao mesmo tempo, desceu a mão, seguindo o caminho de pelos que apreciara mais cedo, e Miguel prendeu a respiração quando ela finalmente o tocou, correndo um dedo pela ereção que ele havia escondido, para cima e para baixo, devagar, antes de envolvê-lo com a mão.

— Geme pra mim — ela pediu, sussurrando contra o pescoço dele. — Me mostra o quanto você gosta disso.

E voltou a beijá-lo, a lambê-lo, a mordiscá-lo, cobrindo cada centímetro que poderia, o aroma de rosas da pele de Miguel quase intoxicante. Os gemidos de Miguel eram quase como suspiros, tímidos, um reflexo da vergonha que ele demonstrara antes. Luci sabia exatamente como mudar aquilo — e desceu lambendo-o até encontrar um mamilo marrom e sugá-lo, aumentando a velocidade da mão que o masturbava e a pressão com que o segurava. Ele pendeu a cabeça para trás, enfiando os dedos no cabelo e xingando baixinho, os gemidos que escapavam dos seus lábios cada vez mais altos. Sem soltá-lo por inteiro, ela deslizou a mão até a base do pau dele e envolveu os testículos, sendo presenteada com o gemido mais delicioso que já ouvira.

— Muito bem, é desse jeitinho — ela o elogiou, voltando a envolvê-lo.

— Luci — ele gemeu, procurando-a com o olhar, uma mão descendo do encosto do sofá para tocá-la, mas parando a centímetros da pele dela.

— Goza pra mim, Miguel? — Ela pediu, deslizando o nariz pela pele dele até encontrar seus lábios novamente. — Bem gostoso, enquanto me beija.

Miguel a respondeu envolvendo o rosto de Luci com uma mão e beijando os seus lábios, segurando-a pela coxa com a outra. Ela voltou a mover a mão no ritmo do beijo e dos gemidos crescentes. A excitação que ela tentava ignorar para se manter no controle era cada vez maior, endurecendo seus mamilos, fazendo-a se arrepiar por inteira quando Miguel desceu os lábios para o pescoço dela, para o decote dela, e entrelaçou uma mão na alça de seu vestido. Ela aumentou o ritmo, e Miguel ficou ofegante, afundando o rosto contra os seios dela, apertando sua coxa com mais força, os gemidos abafados como uma sinfonia contra a pele dela enquanto ele gozava, se derramando em sua própria barriga, os jatos de líquido branco cobrindo a pele.

Por um instante, Luci teve uma curiosidade quase científica quanto ao gosto daquilo. Se a saliva de um anjo tinha gosto de mel e o suor, cheiro de rosas, qual seria o gosto do gozo? Mas qualquer ideia de exploração que poderia ter foi pelos ares porque Miguel havia entendido muito bem a mensagem que ela passara. Antes mesmo de recuperar a respiração, ele puxou as alças do vestido dela para baixo, quase hipnotizado com o sutiã de renda vermelha que encontrou por baixo, lambendo os lábios. Ele levantou os olhos para ela, e ela tirou os cachos que grudavam na testa dele.

— Deixe-me agradecer — ele pediu e por um instante, ela ficou confusa.

— Você não precisa me agradecer por nada, eu...

— Por favor — ele insistiu, os olhos voltando para os seios dela, e só então ela entendeu o que ele queria.

O coração de Luci se acelerou e ela sentiu a boca ficar seca. Nos últimos meses, perdera a conta quantas vezes fantasiara com Miguel aos seus pés, idolatrando-a por inteiro, mas sabia que era impossível. Um anjo como ele, idolatrando um demônio como ela? Jamais. Inimaginável.

Se queria uma prova de que estava certa, de que o anjo em seus braços era seu, estava ali no olhar suplicante de Miguel. Parecia que se sua vida dependesse do sim dela, como se a maior tragédia da sua vida fosse ela não o deixar chupá-la. Luci respirou fundo, contando até três mentalmente, tentando recuperar algum mínimo de controle. Mas Miguel voltou a vista para o rosto dela, a segurança que demonstrara minutos antes parecendo se esvair a cada segundo que ela não o respondia, e ela assentiu, com medo de que ele desistisse.

— Então demonstre sua gratidão — falou.

Miguel pareceu se iluminar e a beijou novamente nos lábios, as mãos descendo suavemente pelos ombros dela, traçando o desenho de suas costas e levando o vestido junto, abrindo seu sutiã e tirando-o lentamente, beijando a marca vermelha que as alças deixavam em seus ombros, acariciando a pele sensível dos seus seios como se assim pudesse aliviar um pouco o peso deles. Foi a vez dela de derreter com a gentileza do toque, com a reverência com a qual ele cobria seu corpo. Era como se ela, logo ela, fosse sagrada e cada suspiro que soltava era recebido como uma benção. Ele desceu beijando o seu colo, o vale entre seus seios, correndo a língua por sua barriga enquanto se ajoelhava à sua frente no sofá. Com dedos hábeis, tirou as botas que ela ainda usava, massageando seus pés lentamente depois de beijar as solas, em um tipo de tortura que Luci nunca imaginaria ser tão efetiva.

Quando Miguel finalmente começou a subir os dedos por suas pernas, ela estava trêmula e ofegante e ele sequer havia passado do seu pé. Ele seguiu os beijos lentamente, centímetro por centímetro das pernas, pela parte de dentro da coxa, até afundar o rosto contra a calcinha de renda, fazendo Luci se arquear contra ele, segurando-o pelos cabelos, e quando ele finalmente se livrou da peça de roupa, jogando-a de lado, quando finalmente apoiou as pernas dela em seus ombros largos, quando finalmente a provou, o mundo inteiro pareceu se abalar, a sensação da língua dele contra o seu clítoris era algo que ela nunca sentira antes, algo que a fazia sentir cada movimento da ponta do pé à cabeça, por inteira, como se de alguma forma ele conseguisse tocar todo o seu corpo de uma vez.

Ela o apertou mais contra si para que ele não parasse e ele a chupou e lambeu e mordiscou como se não houvesse mais nada no mundo, até as pernas dela estarem trêmulas, a tensão em seu ventre grande demais, seu clímax vindo em ondas enquanto ela segurava o cabelo dele com força e chamava seu nome. Ainda assim, seu corpo queria mais. Precisava do toque da pele de Miguel, do calor dele, do precisava de tudo.

Assim que se desvencilhou dos ombros de Miguel e tirou o vestido que estava enrolado em seus quadris, Luci escorregou para o colo dele, um joelho de cada lado de seus quadris, o corpo grudado o máximo possível contra o dele, pele contra pele, seus corações parecendo bater no mesmo ritmo acelerado. Miguel afundou o rosto contra o pescoço dela, abraçando-a, tão ofegante quanto ela. Ela passou a mão pela barriga de Miguel e sorriu contra o cabelo dele quando percebeu que ele havia gozado mais uma vez só de fazê-la gozar.

— Você é maravilhoso — ela sussurrou, afundando o nariz nos cachos escuros. — Tão bom, tão gostoso, tão dedicado.

— Luci. — A voz dele saiu rouca e ele a segurou pelos quadris, tentando puxá-la mais para perto. — Eu não...

— Shhh. — Ela o fez levantar o rosto. — Você sim. Você, sempre. Eu não minto para quem é meu.

Luci só percebeu o que disse tarde demais e fez uma careta, fechando os olhos, esperando que ele se irritasse, que se levantasse e fosse embora. Como assim ele era dela? Mas a reação de Miguel foi abraçá-la mais apertado, encaixando-os melhor, sua respiração quente ainda contra o pescoço dela.

— Eu não quero voltar — declarou com a voz abafada, acariciando as costas de Luci descuidadamente e ela se perguntou de qual lugar ele estava falando. — Eu gosto daqui. Eu poderia ficar aqui para sempre. — E só então ele levantou para a olhar, envolvendo o rosto dela. — Eu gosto de ser seu.

Ela o beijou novamente, não querendo pensar muito no que aconteceria uma vez que saíssem dali. No que aconteceria no momento em que pisasse fora do Templo e Miguel recuperasse suas inibições, no momento em que ela voltasse a ter controle e analisasse a situação friamente. Não havia como aquilo continuar fora dali, e quando percebeu a serenidade dele, percebeu que provavelmente teria que fazer a coisa difícil da sua vida quando saíssem de lá.

Mas por enquanto, tinham a noite. Tinham aquela alcova. Tinham um Santuário.

Gostou? Essa história se passa no mesmo mundo que Livre, um conto que saiu no vol. 4 da revista Maçã Do Amor e pode ser lido gratuitamente. Se quiser saber um pouquinho mais sobre quem lidera a Casa da Luxúria, vai lá (ironicamente, não tem cena de sexo explícita): leia aqui.

Além disso, se gostou mesmo de Luci e Miguel, esses dois personagens vão aparecer em uma história maior, só deles, em algum momento dos próximos anos! Enquanto isso, Isabelle tem outras histórias gratuitas e caso queira ler um pouquinho mais de femdoms boazinhas (sua especialidade), a história As Muitas Perguntas de Aleksey pode ser perfeita para você (principalmente se você está atrás de uma história com pegging).

EDIT:

Leia todos os textos da kinktona!

E se você leu até aqui, esse é só a primeira rapidinha de DEZ com autores convidados que virão nas próximas semanas. Fica por aqui, manda pra amigues, divulga nas redes sociais e me ajuda a levar esse projeto mais longe ❤️ 

É isso! Um xêro e um queijo,

Kodinha

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